segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Zyklon B

Já são mais de 02 da manhã...
Não que isso venha a significar alguma coisa,
Mas, enfim...
É na madrugada que o ar esta mais calmo
Com silencio...
Com o frio...
E aquele resto todo...
Voces sabem, aquilo que sobra...
Aquilo que faz voce se levantar da cadeira...
Aquela força emaranhada e curtida pelo tédio...
E, por isso mesmo, tão saborosa.
Neste momento posso senti-la na garganta...
Talvez até mesmo atrás dos meus olhos...
Sinto aquele cheiro caracteristico...
Aquele gosto na língua...
O fim da dignidade...
Ou daquilo que alguém inventou...
Como sendo o maior de todos os caprichos...
A civilidade...
É.. acho que é esse o nome que deram pra tal coisa.
Civilidade, dignidade...
Isso tudo ai, essa convenção barata e vendida...
Oferta e procura...
Quem quer procurar isso é porque necessita disso.
Compra-se isso e vende-se uma imagem...
E ao vender a imagem o cara engorda o seu capital...
O seu capital de mentiras...
Essas forjadas com o molde do forçosamente aceitavel...
E enquanto isso alguém se degenera aos poucos
Cada vez que respira o ar da verdade do mundo
A verdadeira verdade da mentira...
Da hipocrisia necessária...
Que sustenta os alicersses da loucura diária.
Do mundo do faz de conta
Do faz de conta que esta tudo bem
Do tem que rir pra não chorar...
Alguém lembre que as vezes o mais triste de todos
É aquele a quem alegra o mundo.


Felipe Ribeiro

domingo, 28 de dezembro de 2008

A brisa

Por tudo aquilo que não ousei,
Por tudo aquilo que me fez desistir
De mim, de tudo...
Digo-lhes: Não foi em vão.
Tudo me deu forças,
Tudo me arrasou,
Tudo me tornou nada,
Tudo...
E, ainda estou aqui,
Na ativa, quem sabe?
Para que, vai saber!
Destruir o que sobrou?
Recriar o que acabou?
Sofrer pelo que ficou?
Vai saber!
A questão é que ainda estou aqui.
E sinto o tempo passar,
Passar como se fosse uma brisa,
Passar como se fosse o rabo de uma gata no meio de suas pernas.
Sinto-o leve, bem leve.
Talvez por saber que o intervalo que me resta
Seja apenas mais um intervalo aberto
Móvel e fresco na medida em que se queira...
E, por tudo ainda que há de vir,
Por tudo ainda que não sofri,
Mesmo que tenha aquela leve impressão de que vai ser a mesma coisa,
Por todo esse tédio que me come pelas pernas
Por tudo isso é que eu digo: Bem vindo.
Enche-me de algo, ainda que seja brisa,
Mas encha-me...


Felipe Ribeiro

Sobre o mundo

- Cara... O que que é a paixão? - Me pergunta um rapazinho de seus 14 anos numa festa recheada de bebedeiras e músicas horríveis.
- Como é que é o que companheiro?
- Esse negócio de paixão cara... Eu acho que estou apaixonado maluco!
- Ah. Bom, porra... Vamos imaginar o seguinte - Bebo um grande gole de cerveja - voce esta andando de carro a 120 km/h e freia de uma vez e sai pelo para brisa todo arrebentado, sai rolando no chão se fudendo e se quebrando todo... Isso é a paixão.
- Porra... Mas que merda heim?
- É... isso mesmo, uma merda.
- Se a paixão é assim... Deus me livre do amor.
- O amor é um pouco diferente.
- Ah é é?
- É... No amor há cinto de segurança.
- Humm... - me disse o garoto me olhando com aquela cara de parede.
- Entendeu?
- Não.
- Ótimo... é por ae.
- O que?
- Nada, foda-se.


Felipe Ribeiro

sábado, 20 de dezembro de 2008

Dia chuvoso

Dia chuvoso...
Que culpa eu tenho?
Dessa melancolia?
Dia chuvoso...
A cadeira diz "levante-se"...
O corpo diz "deite-se"...
A alma diz "voe"...
Dia chuvoso...
O bom senso me diz para ficar em casa...
Apatetado bom senso...
Que culpa eu tenho?
Dessa melancolia?
Dia chuvoso...
A garrafa diz "beba-me"...
Os olhos dizem-me "chore"...
É o máximo que posso fazer.
É o minimo que posso oferecer.
Pra mim, talvez...
Ou seja lá pra quem quiser.
Que culpa tenho dessa solidão?
Dia chuvoso...
Acompanhe-me Paganini no rádio...
Que culpa temos meu caro?
De estarmos agora juntos pelo nada...
E pelo vácuo absurdo que nos atinge?
Que culpa temos meu caro?
De estarmos até agora mortos em vida?
Que culpa temos dessa chuva?
Desse maldito dia chuvoso?
Porque é que nos afeta tanto?
Que culpa tenho?
E eu sei lá...
Toda?


Felipe Ribeiro

domingo, 14 de dezembro de 2008

Não pensei num título pra isso... Vejo depois.

Ha dias que deveriam durar um segundo. De fato, pensando melhor, existem esses dias. Nós é quem não percebemos. Não sei ao certo se perdemos alguma coisa esquecendo de viver esses dias. Não sei nem ao certo o que é viver, porra. Isso depende, e muito, do grau de valorização que voce põe na vida. E esse grau de valorização depende e muito daquilo que voce vive. Digo, realmente vive, não fingindo para si mesmo que esta dentro do jogo e quer ser mais uma peça obsoleta que vive de engordar a própria vaidade. Entretanto, ainda assim não sei o que é viver, ou melhor, ainda não descobri ao certo o que me motivaria a tanto. À merda com isso também. Agora escrevo para não enlouquecer, ou quem sabe, para não viver a mentira que me espera do lado de fora do meu quarto, aquela mascara que criamos quando mais achamos que precisamos dela. Eis ai um bom momento de se refletir, de preferencia acompanhado por um copo de cerveja, uisque e um cigarro só pra rebater o vicio de se respirar um ar limpo. Em se tratando de esculhambação da vida não temos muito o que aprender desde que aprendemos, por hábito, a mentir a todo o momento para nós mesmos. Para os outros, que se danem, pois eles mentem para mim também a todo o momento. Retribuo na mesma moeda. Um "oi" quando gostaria muito de mandar para a "puta que pariu". Um "tchau" quando gostaria muito de dizer "não vá embora, quero fazer amor contigo a noite toda, não percebeu?" Só pode ser hábito. Ou medo. Mas o medo, a medida que não é superado, vira um outro hábito. Um hábito petrificante diria. Enfim, as palavras me fugiram agora. Vou caça-las e mais tarde, depois de mastigá-las e engoli-las vomitarei aqui de novo. Ou quem sabe, espero elas virem até a mim. Enfim.


Felipe Ribeiro

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sobre a dor.

A vida dói.
O nervo exposto.
O dedo em riste.
O toque.
A dor.
A vida dói.
A alma em prantos.
A palavra perfeita.
O assimilar.
A dilaceração.
A vida dói.
A reminiscencia.
O prazer.
A saudade.
O desencanto.
A vida dói.
O vislumbre.
A esperança.
O tornar-se real.
A destruição.
A vida dói.
Em seu todo.
Dói.
Prazerosamente afeta,
Prazerosamente destrói,
Prazerosamente cria,
Constrói.
Por que a vida vive.
Além, muito além.
E, ao mesmo tempo.
Na dor da própria vivencia da vida.
A dor é amiga e inimiga.
Machuca, corrói.
Mas modifica.
Modela.
Fabrica.
Renova.
A estima.
E o resto do que sobra.
Da batalha.


Felipe Ribeiro

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vai entender!

- Voce não imagina o que eu vou fazer na sexta Felipe!
- Realmente... Não imagino.
- Aquilo que voce tá precisando fazer a um tempão!
- Se suicidar?
- Não engraçadinho.. Vou fazer amor!
-Ah tá... isso.
-Te contei que estou namorando?
- ...
- O rapaz é lindo, inteligente...
-Meio miope também né?
-Como assim?
-Dexa pra lá.
-Então... Voce bem que me queria ha um tempo atras.. lembra?
-Não.
-Ahh seu sem graça! Claro que se lembra, até semana passada tava doido pra transar comigo!
- Olha.. de fato... não me lembro, mas se voce diz.
-Tá vendo Felipe.. voce ficou pra trás!
- Que bom... Maravilha... Agora me diga, quando é que voce vai me esquecer?
-Ahahaha... Eu já te esqueci, só estou jogando na sua cara o quanto voce é incompetente...
-Tá bom... Poxa.. que quer que eu faça? Me ajoelhe e te peça desculpas pelo insensivel filho da puta que sou?
- Não... só de te ver sozinho já me deixa satisfeita. Espero que voce morra na solidão Felipe!
- Tá... tudo bem. Boa sorte na sexta viu?
-Sorte?
-Claro.. Reze pro seu namorado estar completamente embriagado, porque se ele tiver um pouco sóbrio, um pouco que seja, ele broxa.

Quando abri meus olhos minha cabeça latejava e sangrava. A garrafa havia explodido quando a moça soltou com toda a fúria ela no meu globo. Não entendo as mulheres. Realmente, não entendo.


Felipe Ribeiro

domingo, 23 de novembro de 2008

sopro de vida

De repente voce ficou longe,
Muito, muito longe.
De repente me deu vontade de gritar teu nome,
Seja ele qual for,
E de fazer voce me escutar, se virar e me olhar.
Apenas me olhar, apenas o olhar, o seu olhar.
E fazer voce notar e compartilhar por um segundo,
Apenas um segundo que seja,
A mim.
Mas voce foi se distanciando, se tornando pequena,
Invisivel em meio a multidão,
Aquela multidão apressada,
De problemas, evasões,
Atropelamentos que transformavam qualquer ímpeto
Em nada mais que angustia.
Aquela angustia dos que devem continuar
Mas que querem parar, simplesmente parar,
Apenas parar...
Por um olhar.


Felipe Ribeiro

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Esperança no deserto

Do que vale um não?
Se esse mesmo não não atinge,
Não aflinge,
Não compensa,
Não atormenta
E, simplesmente, não existe?
As mentiras que digo a mim mesmo são futéis,
Ignóbeis, hostis a algo que sinto plenamente.
Talvez só tentar concretizar a verdade seria o começo de seu fim.
E, por isso mesmo, muitas pessoas alimentam segredos.
Segredos que sustentam a maior parte de suas verdadeiras aparencias.
O medo da perda do respeito a si mesmo,
Da perda de algo construido por anos,
O medo, enfim, de saber que aquela verdade
Alimentada por segredos infertéis
Nada mais é do que mais um equivoco,
Um equivoco maior do que esconder a possibilidade
De reconhecer em si o que não é
E amadurecer gradualmente o que se é.
A escolha se baseia na crença... e na fé que botamos
Em nossos equivocos.


Felipe Ribeiro

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Digestões

Força rapaz... Força!
Abra esses olhos!
Levanta da cama!
Coce a bunda!
Esfregue os olhos!
Peide!
Enfrente os primeiros Imperativos categóricos do dia
Como se fossem apenas hábitos...
Enfrente-se diante do espelho...
Como se fosse apenas hábitual.
Faça a maldita barba...
Como se fosse necessário...
Tome um banho
Como se fosse necessário...
Vamos lá.. vista uma roupa...
Não ande pelado pela casa solitária...
Alguém pode aparecer!
Como se fosse habitual...
Ou algo necessário...
Não, por favor, não vá beber pela manhã!
Tome apenas um leite, coma um pão com manteiga...
Segure a onda!
Como se fosse algo habitual... Ou necessário!
Apenas segure a onda... só isso... só é mais um dia qualquer
Como se fosse algo necessário...
Só mais um dia
Como se fosse habitual...
Viva... como se fosse necessário faze-lo todos os dias.
Segure a onda... é só um dia...
Vai ter a recompensa, vai ver!
Perae...
Estou falando comigo mesmo?
É.. é algo habitual... ou necessário... vai saber.



Felipe Ribeiro

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ao seu Juca.

"sabe"disse-me o velho,
"a vida da gente é medida pelos problemas que superamos... Superar no caso não seria apenas enfrentar o problema.. mas, esquece-lo...
quando se é criança o maior de todos os problemas é tentar ficar de pé, quando voce fica, voce esquece como é cair e dai toda vez que voce cai voce chora... Eu acho que a gente só chora nessa idade quando a gente lembra das nossas dificuldades do passado... Ou melhor... isso vale pra qualquer idade, né? Por isso que a gente tem que esquecer...
Veja voce, mais tarde o maior problema é tentar pegar o biscoito que esta em cima da mesa alta,
logo em seguida é tentar fugir das correiadas da mãe enfurecida.
Quando se chega na juventude, o maior de todos os problemas é a timidez para com as coisas novas da vida... mulheres, paixões, medos novos, medos velhos...
Quando se chega na idade adulta o maior de todos os problemas nem chega a aparecer na hora em que assusta... o futuro! O que vou ser, como vou pagar isso, como vou criar meus filhos...
Quando se chega na minha idade, ou seja, aos 85 anos, voce pensa que já superou tudo... O que, de fato, é um ledo engano...
Na verdade voce só se acostumou com a vida... só se acostumou a se superar constantemente.. e seus medos acabam... Uma pessoa que chega na minha idade e tem medo de morrer significa que não superou alguma coisa ou algum medo em seu passado. A gente nessa idade se sente muito mais preparado para os encalços... Mas.. ora bolas... ao mesmo tempo nos sentimos tão fracos.. tão fracos..."
Fiquei sabendo que uma semana depois o velho morreu. Morreu no bar, sozinho, sentado em sua velha cadeira reservada num canto do balcão. Enfim, não sei se ele se superou mais uma vez, pela ultima vez.


Felipe Ribeiro

sábado, 1 de novembro de 2008

Os nove leões.

O celular, ao qual mais me serve como despertador do que um telefone em si, me acorda as 6 da manhã. Minha cabeça explodindo, aquele leve gosto de tristeza na boca me deixava, de certa maneira, ainda mais sonolento, como se eu me entregase completamente à prostação total, como se eu me entregasse enfim para os meus lençóis sujos de suor, como se eles fossem a unica coisa no mundo que me apoiassem e que me entenderiam. Alguns chamam a isso de preguiça, eu chamo de... chamo de... bom, porra, ainda não inventei um nome pra isso, mas não era preguiça. Era um sentimento devastador de impotencia perante o grande ditador que me comia o rabo todos os dias... o meu não, de milhões de milhões de pessoas ao redor do mundo. O que mais me doía era o fato de o despertador não parar de tocar enquanto eu, EU, não tomasse uma atitude para tanto. Desliguei o aparelho, meu primeiro leão já estava no chão. Vamos ao segundo: sair da cama. O quarto ainda estava escuro, abafado e, estranhamente, havia na escuridão uma sensação mista de tempo perdido no mundo e cheiro de mofo. Saio da cama e ascendo as luzes... Terceiro leão no chão. Olho para meu quarto e vejo a imagem fiel de mim mesmo: Roupas jogadas num canto, uma garrafa de vinho meio vazia no outro, algumas latas de cerveja amassadas que faziam um pequeno monte em cima da minha sapateira com meus sapatos empoeirados e cheirando a um chulé petrificado e velho. Aquela sensação de desespero, de sonho morto, de uma imagem construida e arranhada pela ignorancia do mundo... Quarto leão no chão. Vou até o pequeno banheiro, sujo, fedendo a urina e vomito da madrugada solitária que passei comigo mesmo... e ainda assim consegui brigar comigo mesmo e no fim de tudo nem pude desfrutar de uma bela companhia de mim mesmo... Olho para o espelho... Quinto leão no chão. Lavo meu rosto com água fria, me seco com a camisa que usei para dormir. Olho de novo para o espelho... Tento sorrir... Sexto leão no chão. Tento tomar um banho, mas só molho a cabeça. Não sei por quanto tempo fico molhando a nuca, mas foi tempo suficiente para o telefone tocar, eu atender e verificar que acabara de ser demitido... outra vez. Seco a cabeça, sento no sofá rasgado. Minha gata mia e me pede comida. Sétimo leão no chão. Como dizer a ela que acabou? Como abrir a porta de casa e jogar ela na rua? Oitavo leão no chão. A casa se silencia. Vou até a geladeira, não encontro nem mesmo uma lata. Nono leão no chão. Sento-me de novo no sofá... Espero o décimo leão aparecer para me devorar. Ele não aparece.



Felipe Ribeiro

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Procura-se

Depois de desabar na cama
E sentir todo o calafrio do silencio
Todo o som da solidão
E toda decrepitude
Do calor
Do fedor
Das emoções baratas
Futéis e evazivas
De um dia inteiro de tentativa
E, só para constar, de falhas
Eis que surge naquele sujeito
Aquela sensação ambígua
De desespero e paz.
A gata surge e ronrona entre suas pernas
Sobe e deita sobre suas costas suadas e frias
Sai de cima e deita ao seu lado
Mia pedindo água
E o sujeito
Movido agora pela paz
Enche a tigela com água
E, mais uma vez, desaba por sobre a cama
E, espera
Espera como se aquilo fosse seu ar
Espera como se aquilo fosse ser a sua salvação
E, espera
Anciosamente
Num misto agora de tédio e angustia
Que, no fim das contas, sabe ele bem que o que perdurará será o tédio
Eis que o sujeito olha para a porta
E ela fica parada
Eis que o sujeito olha para o telefone
E ele não toca
Eis que o sujeito olha para si mesmo
E ele não mais se olha
Só renova
A espera insana
De acontecer alguma coisa
De belo
De útil
De mágico
De absurdo
Então ele tenta criar o mundo
Em seus pensamentos
E, para sua surpresa
O mundo ideal se contaminou
Com o absurdo do mundo real
E para a sua surpresa
Ele não se surpreende
Com o fato de que ele
Não mais consegue
Sonhar.




Felipe Ribeiro

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Fome de vida.

Diante do calor escaldante da tarde de uma segunda-feira...
Diante do tédio que me enchia suportavelmente...
Diante de tudo que não há graça alguma no mundo...
Diante do artificial...
Do banal...
Do insulto...
Encontrava-me sozinho...
Absurdamente só...
No mais absurdo dos lugares...
Um ponto de onibus.
Estava sentado, olhando tudo sem ver nada...
Quando derrepente fui laçado por um cheiro...
Um cheiro suave... doce
Um cheiro que, se pudesse caminhar, seria lento...
Silencioso, sutil...
E cheio de vida e fogo...
Segui meu nariz e vi...
Esfreguei os olhos e revi...
Jurava que até aquele momento não acreditava em fadas...
Ou alguma criatura mágica do genero.
Mas... Sim, porque não? Havia magia...
E só o cheiro poderia contar por si que aquilo estava no lugar errado
Não poderia ser desse mundo... Ou daquele lugar.
Uma moça... Cabelos negros, ao estilo channel...
Cabelos lisos, finos... brilhantes de um negrume espelhado...
Um nariz fino e um pouco grande contrastava lindamente com seus imensos olhos negros cheios de lápis preto que terminava com um desenho fino no canto dos olhos...
Usava um vestido vermelho... Só disso que me lembro, realmente não prestei maior atenção a suas roupas ou indumentarias...
Se sentou ao meu lado...
Com certeza minha cara estava abobada...
Com certeza minhas pupilas estavam diltadas...
Com certeza minha boca estava entre-aberta...
Mas.. que se dane...
O mais interessante é que ela me olhou...
Me olhou! Não poderia acreditar...
Nessas horas voce se sente atingido por uma noção bastante verdadeira de existencia própria...
E ao mesmo tempo voce quer existir...
Onde, quando? Pouco importa... voce só quer existir... para aquilo tudo...
Sorriu...
Pra quem?
Pra mim? Não pude acreditar...
Se levantou e fez um sinal com a mão...
Subiu no onibus devagar...
Era ela uma serpente? Ou uma gata? Realmente não se ouvia seus passos...
Rebolava de leve... Seus quadris hipnotizavam...
E suas coxas ficaram expostas por um milesimo de segundo...
Mas fora o suficente para me lembrar para sempre...
Daquele calor
Daquele calor...


Felipe Ribeiro

domingo, 12 de outubro de 2008

Estenda as mãos...

Eis que me deparo com a sala de aula vazia e escura.
Ora, até ai nenhuma surpresa, cheguei trinta minutos mais cedo, completamente embriagado por uma mistura de desespero, sufocamento, desinteresse, depressão e, via de regra, alcool. Como disse, até ai nenhuma surpresa, sempre me sinto assim, ou pelo menos nos ultimos 5 anos. Escorei minha cabeça na carteira e fiquei esperando o horário da aula, sentado nos fundos da sala daquela faculdade pública.
A porta da sala se abre e surge uma figura feminina na escuridão. Ascende a luz e me olha.. nos olhamos. Ela ascena com a cabeça e eu com os olhos. Ela se senta nos fundos da sala ha algumas carteiras de distancia de mim. Nem dou moral, ela é uma amiga tranquila que conversa na hora que bem lhe entende e não tem frescuras; eu também não queria papo, por isso a cena toda é um grande túmulo: eu de um lado, escorando minha cabeça na carteira; ela de outro examinando suas unhas por fazer.
Derrepente ela se levanta e chega até a mim. Se agacha ao meu lado e diz:
- Força Felipe... A linha é tênue, voce tem que ter força...
Não sei ao certo, mas tudo o que ela me disse naquela hora fez todo o sentido. Ela ainda continuou:
- Eu já vi a cara do monstro, a linha é tênue, tenha força... O monstro esta sorrindo sempre Felipe, não de essa chance a ele!
Novamente fez todo o sentido... Agradeci com os olhos a minha amiga, me levantei e matei a aula. Fui até um bar e bebi até cair. Passei a noite na rua e, de uma maneira estranha, senti toda a paz do mundo, ou pelo menos toda a paz que um homem no auge dos seus 22 anos poderia suportar.
De onde vinha aquela força? De onde? É, ela tem toda a razão... a linha é realmente tênue...



Felipe Ribeiro

sábado, 11 de outubro de 2008

Mãos atadas

Mais uma noite sem sentido...
Ha dias que parecem não existir...
E, no entanto, contam como um dia...
Mais um pra conta do mais próximo do ultimo dia em que voce vai viver...
É interessante notar esses dias vazios...
Simplesmente nada acontece, e voce sabe disso...
Simplesmente nada vai acontecer, e voce também o sabe.
Tediosos dias.. em que justamente voce não quer fazer nada...
E, no entanto, ao mesmo tempo, gostaria de fazer de tudo...
De tudo...
Mas.. só gostaria... O que o leva a não fazer?
Preguiça, desmotivação?
Não... Diria que esses dias vazios são sábios!
Sim, sábios! Eles nos gritam na cara o tempo todo:
"Não durma, pois a vida é isso! Não, não ouse sonhar!"
E, no entanto alguns sonham...
E juram que podem ser felizes...
E juram que tem escolhas...
E juram que escolhem...
E juram que juram algo pra si mesmos...
Juram que domam as rédeas do cachorro louco do destino...
Mas mal sabem que esse cachorro esta morto...
E o louco é quem esta tentando domar o destino inexoravel...
Ahh o que me sobra é o tédio...
E é esse tédio que sobra na maioria das pessoas...
E é contra ele que elas se degladiam...
Se esforçam para mostrar para si e para o mundo que algo há de se compensar...
E realmente há sim...
Diria que o fato de tentar se rebelar...
Se mecher, se virar...
Ahh, como eu as invejo!
Ahh, como eu sei que essa mesma inveja, ao mesmo tempo...
Não faz o menor sentido!


Felipe Ribeiro

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Reminiscencias...

Acontece sempre quando menos esperamos...
E, talvez por isso, sempre acontece e nunca percebemos.
È uma coisa estranha, sem nome.
Sem sabor também.. Sem cor, sem cheiro...
É o unico acontecimento que voce tem plena consciencia de que aconteceu
E é o unico que, ao mesmo tempo, voce não faz idéia do que é.
Talvez uma musica que te faça lembrar de um cheiro...
Ou um cheiro que te faça lembrar de uma musica...
Não se sabe quando, nem onde, nem o porque...
Mas é como um soco.. um soco forte.
Um soco no estomago... te deixa sem ar...
Sem palavras.
E de repente o tempo parece parar e retroceder...
E quando isso acontece tudo do agora se evapora...
E voce volta a ter 18 anos...
Volta a ter a oportunidade de ouro...
De dizer pra si mesmo: "Não faça isso!".
O problema é que voce não escuta a voce mesmo...
E, num passe de mágica toda a sua vida se torna um jogo...
De ações e reações, azares, sortes...
Imprudencias e, quem sabe, sabedoria.
E voce percebe bem que aquele soco foi voce mesmo quem o deu...
E voce percebe bem que a vida é um paradoxo sutil...
Percebe bem que ela é extremamente frágil...
Mas o é justamente porque faz laços fortes...
Tão fortes que deixam marcas...
E essas mesmas marcas se mostram...
Ao menor tom de uma canção...
Ao mais insignificante cheiro...
Ao infimo espaço de alguns segundos.
E ficam... ah, se ficam...
Para sempre,
Enquanto durar.



Felipe Ribeiro.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Invocações.

A batida leve na porta me fez saltar da cama.
Ascendi o abajour meio perdido.
O que, ou quem poderia ser... vai saber!
Só sei que olhei os numeros vermelhos do relogio digital...
E nele cravavam virtualmente quatro numeros...
03:54.
Esperei outra batida na porta...
E novamente uma, duas, tres batidas leves...
Como uma seda tocando na madeira...
Me levantei, abri de súbito a porta.
E...
Nada.
Nem ninguém...
Só o corredor porcamente iluminado pela luz do abajour.
E, porque não, o frio.
E, porque não, aquela solidão.
E, porque não, a saudade.
Aquela saudade que tem gosto e cheiro...
De quando aquela porta se abria para entrar uma mulher.
E se fechava para entrar o amor.
Sentei-me na cama, comovido por uma espécie de auto-comiseração.
Apaguei o abajour e deitei, sonhando acordado com o desespero do fato...
Daquele fato aterrador...
De estar ficando maluco em ouvir batidas na porta.
Eis que novamente surge-as...
Uma, duas, tres batidas leves...
Não custava tentar... Disse: Pode entrar.
Então a porta se abriu
E o vento gélido me beijou.
E eu poderia jurar que ouvi um boa noite...
Meu amor.


Felipe Ribeiro

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Você.

Você é toda a circunstancia, e não o sabe.
Você é todo o acaso que por ventura há de acontecer, e não o sabe.
Você é o que ainda não foi, o ocaso.
E essa certeza o impediria de ser enquanto se é o incerto?
O certo é que deixaremos de ser...
Ser o que?
Justamente!
E o que garante que deixaremos de ser, se ainda não o somos?
E enquanto isso brindamos, choramos, nos orgulhamos e nos decepcionamos.
E quem sabe, entre um e outro vivamos enfim.
O "pra que" circunscrito de vontades.. efemeras em suas solicitudes,
Banais na medida em que se queira,
Infieis na medida em que desapontam.
Voce é sim toda a circunstancia, e não sabe.
E talvez por não saber você enfim se esquece de si
E transmita a outrem apenas aquele ser oco
Igual, irrefletivel, passageiro.
E ainda assim consegue alimentar pequenas angustias,
hipotecas, contas, filhos, doenças, vícios...
ritos que insistem em chamar de vitais e necessários...
A quem? Para quem?
Sim... voce é toda a circunstancia...
Sim... voce é todo o acaso que por ventura há de acontecer...
E não o sabe...
Assim, serás o ocaso antes mesmo de o sê-lo.
O membro fantasma que voce sente mas sabe que ali não esta...
E com isso perderá a oportunidade que talvez pertença somente aos bravos.
Ou... a você.



Felipe Ribeiro

domingo, 28 de setembro de 2008

Sobre as escolhas...

"Então o mundo é feito de bandidos e mocinhos", disse uma amiga minha
Segundo ela é muito mais emocionante ser o bandido
O bandido sempre come a gostosa,
rouba bancos,
e dá vida à normalidade...
E ainda ela arremata dizendo que eu seria um charme se escolhesse ser bandido.
Não sei o que ela quis dizer, ou melhor, tenho a leve impressão de que sei sim
mas enfim...
Que tipo de bandido um cara como eu seria?
Não ligo muito em comer a gostosona e roubar um banco.
Estaria mais preocupado em garantir minhas cervejas por mais uma semana
E, quem sabe, um amor artificial de 20 minutos.
Não sei o que essa minha amiga é..
Se bandida ou mocinha...
Sinceramente...
Prefiro-a sem roupa do que ficar me preocupando com sua moral
mas enfim...
A vida é realmente sem graça se não fizermos uma escolha
Qualquer escolha... seja ela decente ou indecente
"Ou se é bandido ou mocinho, meio termo que só faz figuração é muito sem graça"
Foi o que ela me disse...
E foi realmente o que eu não aprendi.


Felipe Ribeiro

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Certamente, nunca mais.

A primeira coisa que eu sinto ao acordar...
São meus pés pisando no chão frio...
O arrepio triste que me corre a espinha...
O gosto podre do vinho da madrugada...
Há alguma esperança nisso tudo?
Ou isso tudo não passa de uma brincadeira?
Olho para o lado e vejo aquele corpo nu...
Virado, numa posição fetal...
Todo suado, tremulo...
Timido...
Deram um nome para aquele corpo feminino...
Sim, deram...
A questão é.. qual foi o primeiro nome que deram para ela?
E... qual é o que ela gosta de ser chamada?
Me esforço para lembrar do nome... Ah, dexa pra lá.
Calço meus chinelos velhos...
Preparo um café amargo...
Há alguma esperança nisso tudo?
Ou isso tudo não passa de uma brincadeira?
Ela aparece na porta da cozinha...
Vestida, colocando seus sapatos aos pulos...
Peço para ela esperar o café...
Ela diz que só quer acertar para ir embora...
Dou-lhe o dinheiro, ela agradece...
Me beija a face e desaparece...
Um vento frio sopra minhas costas...
O vidro quebrado da janela deixa escapar o sopro...
E eu...
Um suspiro...



Felipe Ribeiro

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Imaculada

A maldição dela se resumia a uma beleza estonteante
Que deixava a maioria dos homens plenamente cegos
E tudo o que ela queria era ser enxergada...
Isso resumia toda a sua aflição...
Saber que é, mas não poder mostrar
Sem que antes passe por um crivo animalesco
Do descompasso das paixões instintivas
Dos amores da carne
Dos vermes sedentos pelo suor e pelo gozo
Da firula do belo e do razo.
Ela exalava o cheiro da beleza
O cheiro digno de qualquer mulher
Aquele cheiro suave e forte
Que fica no ar onde quer que ela passe
E tudo o que ela queria era que alguém sentisse o que o cheiro trazia
E não apenas cheirar e se deliciar
Mas antes queria que ouvissem seu apelo
Seu suplicio era gritar e não ser ouvida.
A beleza a fez invisivel de certa maneira
E por mais que ela pudesse ter tudo o que queria
Sempre se deparava com a insatisfação e solidão
De não ser tocada verdadeiramente.
Apesar de sua carne já o ser descortinada
Sua alma ainda o era virgem
De toda a razão.


Felipe Ribeiro

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Constante e retilinio

Eu e meu empreguinho vagabundo... Tendo que sorrir com dores no fígado e uma puta artrite nas duas pernas... Servindo com carinho e atenção todos aqueles barrigudos nojentos e suados que almejavam uma refeição decente. Me gritaram e pediram para ir atender uma familia que acabara de chegar. Dei de ombros e fui. Para a minha surpresa era uma velha amiga minha... Estava bonita, corada e carregada de filhos. Seu marido eu nem notei, mas deveria ser bom de grana pra sustentar tres filhos e uma mulher futil.
-Boa noite... - entreguei os cardápios. Não me responderam, apenas um dos meninos, o que não parava quieto ficou repetindo com uma careta exagerada "boa noite, boa noite".
- Traga para mim uma cerveja. - Disse o patriarca.
- Traga para mim um suco de laranja com hortelã, Gabriel o que voce vai querer?- Perguntou a matriarca amiga minha que naquela altura nem havia reparado ainda em mim.
- Quero uma coca! - Disse o menino
- Joana, o que voce vai querer? - Perguntou a matriarca amiga minha que nem havia reparado no seu velho amigo que um dia lhe fodeu numa madrugada bebado.
- Quero um suco de morango com leite! - Disse a menina toda feliz e orgulhosa de seu péssimo gosto, se lichando para minha artrite e minha tristeza que crescia espontaneamente.
- E para o menino pode trazer uma guarana. - Disse a matriarca amiga minha de anos. Agora entendi o porque de o menino não parar quieto.. Guaraná!
- Mais alguma coisa? - Perguntei.
- Não só isso mesmo... - Disse a matriarca amiga minha me entregando o cardapio. Me olhou e parou subitamente.
- Felipe?!
- Oi, como vai?
- Felipe! Quanto tempo!
- É pois é...
- Como voce esta?
- Te servindo.. Tire suas conclusões.
- Voce esta... esta diferente!
- É.. voce também.
- Voce não tinha se formado?
- É.. e voce?
- Me formei e me casei, esse aqui é o Rafael, meu marido.
- É, to vendo, tudo bom?
- Sim, tudo.. Faz um favor pra mim, troca esse copo que esta sujo.
- Sim senhor.
- Tchau Felipe, bom serviço pra voce.
- Tchau.
Enfim, voltei e limpei o copo com minha saliva. Vendo aquela cena familiar me fez pensar seriamente em ligar pra casa da minha ex-mulher e perguntar sobre minha filhinha de oito anos. Acabado o expediente da noite voltei para minha casa que ficava num bairro de suburbio, nos fundos de uma casa pertencente a uma gorda velha e fumante. Abro a caixa de correios e nada, nem mesmo uma conta pra pagar. Entro em casa, abro uma janela pra disfarçar o mofo, vou até a geladeira e tiro um vinho gelado e meio vagabundo. Bebo no gargalo enquanto tiro meus sapatos e deito preguiçosamente na poltrona rasgada e velha do canto da sala que divide espaço com minha cama, fazendo uma parede imaginaria em um comodo que deveria ser dividio em sala e quarto. Pego o telefone e ligo para minha ex-mulher. Minha ex-sogra atende e diz que ela viajou com minha filha e um outro babaca que se diz padastro da minha filha. Desligo o telefone e acabo de beber o vinho, pensando em me demitir ou, quem sabe, me matar... A vida continua, de alguma forma, continua...



Felipe Ribeiro

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Da efemeridade de um brilho.

Ha alguns dias atrás me aconteceu algo no minimo interessante. Andando sem rumo por uma avenida eis que me deparo com uma placa onde se podia ler as seguintes palavras: Toque o interfone. Dei de ombros e toquei o dito interfone. Uma voz feminina saiu da caixinha e me perguntou quem eu era. Pensei que ela estava se referindo ao meu nome, então disse: Felipe. O portão se abriu, entrei no estabelecimento que não tinha a minima ideia do que era. Uma mulher estava sentada folgadamente numa cadeira, apoiando os cotovelos numa mesa enquanto lia uma revista de fofocas. Me observou com os olhos acima dos óculos que estavam pendurados na ponta do seu nariz e me disse pra sentar e esperar que logo iriam me chamar. Não havia ninguém por ali, então me sentei e fiquei aguardando que me chamassem. Pra que, eu não sei. Passou-se alguns minutos e enfim gritaram meu nome. Entrei num corredor até uma porta aos fundos. Um senhor suado com camisa azul clara, esforçando-se para parecer competente naquilo que fazia, me pediu para sentar.
- Então, o que voce faz Felipe? - Me perguntou.
- Faço idiotices
- Idiotices?
- Sim senhor.
- Bom, o que alguém que faz idiotices faz de fato?
- Tudo que lhe mandarem fazer. Mas a diferença, é que o idiota faz com esperança.
- Entendo... E o que o senhor espera?
- De quem?
- Desta firma!
- Ah... Bom, muita coisa.
- Porque?
- Bom, não sei. Só sei que qualquer coisa é melhor que nada, certo?
- Não contratamos qualquer um, tem que haver o compromisso sério do trabalho e...
- Mas, não sou qualquer um. Eu sou ninguém!
- Qual a diferença?
- A diferença é que com o ninguém pode-se fazer de tudo. Mas, claro, não espere nada também.
- Bom, o senhor deixou curriculo com a secretária, certo?
- É, certo...
- Entraremos em contato.
- É, tudo bem.

O fato é que de fato sempre esperamos demais. Faça o teste e espere. Algo surge dentro de voce, alguma expectativa alimentada pelo desespero de querer mudar de qualquer maneira, mesmo que para tanto voce venda a sua alma. O tédio nos proporciona as maiores e melhores humilhações. Humilhações do tipo ser educado com um cara que tenta se passar por alguém mais mais qualquer coisa do que voce, a ponto de te ameaçar covardemente (sic) com o risco de voce não conseguir a vaga na sua firma. As pessoas podem chegar a esse cúmulo contratual, brincando com a necessidade alheia para garantir a sua própria conquista de eternidade. Por essas e outras prefiro ser efemero e passageiro... Como o brilho de um vagalume que ao ser percebido já não está mais lá, mas que brilhou por poucos segundos espantando toda a gigantesca escuridão.



Felipe Ribeiro

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Fênix

Ora muito bem... "Então é isso?", pensei. Sentei-me indiferentemente na calçada, depositando todo o resto de dignidade e respeito à minha pessoa numa garrafa quente e triste de vinho tinto barato. Nessas circunstancias voce não espera realmente que alguma coisa vai mudar... e quando digo alguma coisa eu incluo qualquer coisa: Relações humanas, o problema dos esgotos, os ratos malditos e suas doenças, pulgas, o pêlo inflamado da minha bunda, a porcaria da fila dos hospitais públicos, eu, ela, eles, nós e todo o resto. Bom enfim, a ultima golada é a mais esperada de todas, pois voce jura que esta tonto e, por isso mesmo, mais feliz ou alegre ou seja lá o que for voce ainda consegue estar ciente de que a merda esta atolada até o seu pescoço mas que, no estado atual de uma garrafa de vinho no sangue, faz com que o cheiro de podre se torne mais toleravel. Me levanto meio devagar, sacudo a poeira da roupa e vou para o samba que esta rolando naquela noite, bem ali ha 12 metros de mim. Sons, gente, cores... E aquela falsa sensação de liberdade, de total liberdade... Me escoro em uma árvore e vejo todos dançando, rindo... Vejo que as pessoas andam em blocos de no minimo dois individuos... Percebo, então, que sou o único a estar andando em um bloco unicamente formado por uma pessoa: eu mesmo. Bom, não mudou nada, mas enfim, já é uma constatação familiar de que eu estou fodido ou pelo menos sozinho. Lembro-me subitamente de que ha alguém ali que devo procurar... Ha alguém ali que poderia me salvar do tédio abismal que é o simples fato de existir. Sim, há alguém... E sim, pelo que pude notar, me salvou mais uma vez. Um simples oi envolvido de expectativa e de um sorriso pervesamente benéfico fez com que eu me guiasse novamente pelos caminhos obscuros e tortuosos da maldita esperança... Um simples oi foi o suficiente para me deixar sem folego e ir embora de fininho, pensando comigo mesmo o quão idiota e banana eu sou. Enfim.. as vezes nada pode salvar muita coisa, inclusive tudo. E lá vou eu, de volta para meus suplicios solitários, mas renovado de vida... de legitimações... de algo que me toca além do que eu quero e posso...


Felipe Ribeiro

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sangue de barata

Aqueles rostos prestes a atacar o interlocutor...
Aqueles rostos desacreditados, desequilibrados...
Aqueles rostos inflamados por algo novo...
Aqueles rostos que queriam segurar o poder...
Aqueles rostos...
Não me parecia nada além de umas simples palavras...
Porém, não pude deixar de notar na loucura ali emanada...
A loucura dos famintos...
Dos ávidos...
Dos inescrupulosamente gananciosos...
Inquisidores da culpa...
Queriam culpar o mundo...
Enquanto a si mesmos caberiam apenas balanços afirmativos...
Automáticos...
Compassados...
Sincronizados...
De cabeças ocas...
Que alienaram seu direito natural de pensar...
Em nome da especialidade alheia...
Da falácia sempre presente
Do pregador perfeito...
Da máquina de produzir conversa fiada..
Em embrulhos pedanticos...
Fica dificil entender assim as pessoas e o que elas realmente querem...
Quanto a mim, só queria sair dali.
E tomar uma cerveja...
E quem sabe pensar um pouco na vida...
E quem sabe planejar um pouco meu futuro...
Ou, quem sabe...
Nada disso tudo.




Felipe Ribeiro.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Alguns segundos para minha alma

Por acaso, num sebo vagabundo.
Em meio a clássicos antigos e empoeirados...
Foi uma visão interessante... Contrastante...
Ali, na minha frente, a beleza e a loucura dos homens...
Escritas com louvor, angustia e alma..
E do meu lado a beleza de um simples sorriso.
Um sorriso bobo de uma moça que estava satisfeita...
Momentaneamente satisfeita...
Por ter encontrado alguns exemplares.
Um simples e ingenuo sorriso de satisfação...
Como se o infinito se fechasse no perene.
Ha coisas que simplesmente queimam...
E lá estava eu... queimando toda a certeza que tinha,
Toda segurança forjada pela solidão,
Queimando a mim mesmo...
Por um simples sorriso feminino...
Deveria prestar mais atenção nas coisas simples...
para não correr o risco de me queimar pelo encanto do belo,
do ingenuo, do puro... e do estonteante...


Felipe Ribeiro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

E no sexto dia...

Olha lá, olha lá! Vai bater! - o menino me disse.
É... vai bater... - eu disse.
Nossa! Bateu! - o menino disse.
É... bateu... - Eu disse.
Alguém liga pros bombeiros! - o menino gritou.
... - eu disse.
Meu Deus! Que tragédia! Não, não mecha na cabeça dela! - Uma senhora disse.
Fique quieta, os bombeiros já estão vindo! - o menino disse.
... - eu disse.
Os bombeiros chegaram! Fique calma! - a senhora disse.
Afastem-se! - o bombeiro disse.
AHHHH AIIAIAIAIAI AHHHHHHHH, MINHA PERNA, AHHHH! - a mulher disse.
Então o carro dos bombeiros saiu em alta velocidade. Então todos voltaram para os seus afazeres. Eu fiquei ali, olhando aqueles pedaços de plásticos e vidros estilhaçados misturados ao sangue no asfalto.
Me virei, sentei e esperei o ônibus no ponto. Voltei minha atenção para a pipoca que eu deixei de comer para ver o acidente. Perdi o apetite e dei a pipoca para o menino que ainda estava agitado com o acidente.
Obrigado! - o menino disse.
Tudo bem. - eu disse.
E no mesmo instante o menino esqueceu do acidente, devorando com prazer a pipoca. Assim como Deus descansou no sétimo dia. Cada um escolhe o que lhe é melhor, não foi sempre assim?


Felipe Ribeiro

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A flor de lótus

E a pequena moça pálida caminha.
Com leveza, esperando, escutando... se afirmando.
Frágil, indiferente... soturna.
Exala um perfume incomum.
O perfume da inteligencia.
Ela anda com leveza, mas traz na fronte um escudo.
Esse escudo a protege...
Apesar de ela não se preocupar com os golpes.
Ela cai.
Sempre cai.
Se levanta.
Sempre se levanta.
E volta a bailar... Com seus passos surdos, leves...
Dança no escuro consigo.
Ri da parede a sua frente,
Ri... apesar de não vermos seu sorriso todas as vezes.
Mas... Quando se tem a chance de vê-lo...
Tudo se resolve, por um momento.
Pra si e pro mundo.

Felipe Ribeiro

Para a "panda"

Ahh, ela e todo seu ser...
Como posso descrever algo mais autenticamente bom?
Um simples "ahhhhh" já fala muito...
É um suspiro automático, veemente...
Do tosco que tem a visão ofuscada pela Beleza em si.
A beleza emanada da carne, a beleza emanada da forma...
A beleza emanada do espírito.
Um simples "ahhhhh" já fala muito...
Mas não o tudo que me engasga...
Mas não o todo que me sufoca e me faz reviver,
Renascer, entorpecer, estremecer e empalidecer...
O misto de medo e fascinação me assombra e me chama.
Me chama como a luz da lâmpada chama a mariposa,
Me chama como a aurora convoca os pássaros a cantar,
Me chama como o afogado chama o ar,
O desesperado chamando pelo socorro,
O homem de paz chamando o hábito,
A quentura chamando a sombra fria,
A necessidade chamando a satisfação.
Um simples "ahhhhh"... Um meloso engano
Mas certamente um encanto, um suspiro infimo de libertação.
Um segundo de vida
Um momento de valorização.
Os olhos e suas penumbras... Vislumbram e deixam aparecer sua força
Sua audácia
Sua doçura
Seus medos
Seus anceios
Seu querer.
E eu, amarrado, dormindo, distante.
Distante... Mas não ao ponto de não sentir,
Não ao ponto de imaginar, talvez
O dia...
Que seja apenas um dia,
Mas o dia...
Que irei te amar...
Por completo, enfim.


Felipe Ribeiro

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Enquanto não venho pra mim.

Então lá estava eu, sentado num banco,
Escorando meus cotovelos no balcão daquele bar.
Esperava um milagre ou algo do genêro acontecer.
Esperava tanto que cansei de esperar e resolvi prestar atenção ao meu redor.
Estava acostumado com as piadas sem graça dos outros desafortunados dali.
Enfim, depois de quatro doses de uísque o mundo fica mais familiar.
E você consegue até mesmo sentir graça em tudo.
E consegue entender a sutilidade da desgraça alheia.
E da sua própria também.
E o mundo lá fora, choroso em chuva.
E o mundo aqui dentro seco pelo escárnio necessário.
Eis o brinde que podemos oferecer.
Eis aquilo pelo qual podemos realmente lucrar.


Felipe Ribeiro

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Puta.

Bom... enfim... é um começo desagradável, como tudo que é novo.
Não espero nenhuma mudança dramática, tão pouco uma mudança.
Mas... há de convir que o novo é um pouco dramático, um pouco surpreendente, talvez.
Ei-lá!
Outro corpo, outro toque, outra sensação.
A mesma alternativa frustrada de salvação.
O sumo absurdo do acaso.
Reviravoltas em si mesmas.
O uso circunscrito e programado...
do outro ser.
Vaso fresco, moldado pela loucura dos homens.
Diferente, único e tão igual aos outros seres.
O desespero do laço... dos laços entrelaçados.
Fortes, amarrados uns aos outros.
Indestrutíveis na medida em que se queira, na medida em que dura
o tempo pré estipulado do contrato.
Um beijo para essa ilustre desconhecida a quem me entrego.
Por prazer
Por validação
Pela vida
Vivida em vão.



Felipe Ribeiro

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Ação e Reação.

Recebi um abraço de uma mulher hoje como há muito não recebia.
Um abraço forte, que me queria e que me pressionava ao ponto da quase fusão.
Um abraço potente que estralou minhas costelas
E ao mesmo tempo fez supitar algo que estava depositado fundo e esquecido.
Algo que só um abraço forte poderia pressionar para fazer vir à tona.
O resto de minha alma jorrou de meus olhos hoje.
O resto de minha alma respirou os ares insalubres do real.
O resto de minha alma...
Veio à tona como um grito mudo, inaudivel e choroso.
Uma súplica de contato.
Um chamamento do instinto.
Um vislumbre do provável.
Um querer ser visto.
O resto de minha alma voltou a ver o mundo.
Como o último resto de uma pasta de dentes que sai do tubo seco.
Sai apenas... Como um acidente, cai no chão.
Mas sem parar na escova de dentes e na boca de quem espremeu.
Fica lá, secando no tempo, formando uma crosta até perder a utilidade.
Endurece e deixa pra tras o tubo seco.
Dai para o lixo, é um pulo.


Felipe Ribeiro

Senta e cala!

Ah! Como é doce o sabor da paz!
Mesmo que saboreada a poucos goles e em poucos instantes...
Ah! Como é bom estar indiferente!
Mesmo sabendo que o soco te espera na esquina...
Sinta a noite
O ar
Os sons
Sinta o Tempo passar e levar consigo todo o medo
Todo o mal
Toda a angústia e toda raiva.
E quando voltar para a luta todo soco que levar será mais leve...
Pois baterá em algo mais duro
Mais forte
Mais vivo.



Felipe Ribeiro

Ávida indiferença.

Escutando uma conversa entre dois espíritas:
"Mas assim.. fulano é católico... mas é bonzinho..."
Escutando uma conversa entre dois católicos:
"Mas assim, ciclano é espírita... mas é bonzinho..."

Me intrometendo na primeira conversa:
"Mas assim... Que se dane..."
Me intrometendo na segunda conversa:
"Mas então... O que eu tenho haver com isso?"

Resultado da intromissão referente a primeira conversa:
"Não ligue... Ele é um ateu."
Resultado da intromissão referente a segunda conversa:
"Não ligue... Ele é um ateu."

Resultado disso tudo:
"Não ligue."

Felipe Ribeiro

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Carimbo e assinatura.

Você me ama? - ela me pergunta.
Penso, mas que raio de pergunta é essa? Ainda mais nessa hora do dia - meio dia e quarenta e três.
O que será que levou ela a me fazer tal pergunta a essa hora? Fome?
Escuta - eu disse - vamos fazer o seguinte... Mais tarde a gente se fala, pode ser?
Mas primeiro me diz... Você me ama? - retrucou.
Amo. - eu disse.
Então ela me abraçou, me beijou a boca, a bochecha, o nariz, a testa e o resto da cara.
Mais tarde nos vemos! - Disse ela.
Tudo bem... - Disse eu.
Fechou a porta. Vesti minhas calças. Escovei meus dentes. Mijei. Olhei pro teto e nada de ele cair na minha cabeça, como de praxis, acabamos por perder essa esperança tola de que algo pode acabar conosco em um segundo quando mais a gente quer que acabe... quando mais se precisa.
E lá se foi outro dia... Onde as palavras selam o contrato inútil de uma razão desmentida pelo simples fato da vida.


Felipe Ribeiro

Pra sempre no mesmo lugar

Ferimo-nos constantemente com o açoite do medo.
Eis as rédeas curtas, eis o arreio da razão.
Homo imobils toscus!
Penso que essa é a raça, a mais nova raça.
Derivada do Homo demiens...
Aquele que insistia em ser bípede
E falar asneiras.
Aquele que insistiu demais
E acabou perdendo a chupeta
Por castigo a sua teimosia insana
A sua insistência atormentada
De tentar ser mais do que realmente é.
O espaço consagrado a sua tolice
Foi o holocausto da esperança.
A harmonia ritmada da demência
O desarranjo perfeito
De uma sinfonia inacabada.
Talvez a única coisa que não se pode controlar;
É o simples fato de sermos, simplesmente, idiotas.
Esta no sangue...
Esta na alma...
Dos mais afortunados dos homens
Que se permitem continuar dançando o ritmo
Aquele ritmo acelerado e invariável do mundo
Dos tubarões...
Dos predadores vorazes,
Dos garanhões vazios, ocos e imundos.
Dos insignificantes agigantados.
Esta no sangue...
Esta na alma...
Dos mais afortunados dos homens
Que insistem na sobriedade caduca.



Felipe Ribeiro

A dor da escolha

Olhos ávidos
Olhavam-me com amor
Olhos marejados
Contive-me diante da súplica
Olhos amordaçados
Desviei a adaga, desferi na alma...
Olhos estraçalhados
Acertei o ponto nodal
Silêncio absoluto
E o choro cortante
Do homem que enfim se decidiu
Em buscar a paz
Como a um parto.



Felipe Ribeiro

Caminhando reto no escuro

Há de se ter, de se querer, de se buscar, de se ser...

Ou não

Talvez o que se mais queira é justamente isso

O não.

Ou... A certeza constante e aconchegante do talvez

O claro, o escuro;

O cruel, o bom;

O sádico, o masoquista;

O frio, o quente;

Ou... O meio termo disso tudo!

Há pessoas que se contentam com o meio termo

Entre o nada e o tudo

Entre o possível e o irrisório

Entre os todos e o ninguém.

Entre a paz e a guerra...

Entre si mesmos e os outros

Não há escolhas prováveis

Não há o risco comedido

Não há nem a prudência

Só o talvez... Só o talvez.

E assim voam as flechas envenenadas.



Felipe Ribeiro

Sedução

Segundo minhas próprias constatações
Estou na iminência de acabar com o que nem comecei
Talvez presumo demais que a falta é presente
Talvez é o presente que falta
Ou, quem sabe, a própria presunção?
Quem sabe? Quem sabe?
O começo se espalha na promessa
A promessa começa a fazer algum sentido
E o sentido é o que eu quero buscar
Talvez só o começo, de algo necessariamente bom e saudável.
Que contraponha a todo o fragmento desmedido dos cacos
E todos os arranhões das causas perdidas
Todos os vergões dos petiscos mal degustados
Todos os tapas na cara recebidos pela realidade cúbica,
Gelada,

Plana,

Chata,

Estúpida!
Só quero acreditar na promessa feita a mim mesmo
È... Enfim... Estou sem crédito para comigo
Vou botar na minha conta...
Mais uma maldita vez!



Felipe Ribeiro

Os dois extremos

Escutando "as bodas de Fígaro"
Bebendo um copo de uísque vagabundo.
A sutileza de dois extremos...
Escuto e bebo...
Não sei o que é melhor...
A sutileza de dois extremos...
É um arrepio acre que mastiga e cospe...
Mastiga toda mágoa e cospe toda descrença
Esta na sutileza.. na sutileza desses dois extremos
Ver, ouvir, beber, sentir e embriagar-se duplamente.
Duplamente... Onde convergem a dor e o vazio
Eis onde nasce a esperança...
Morta...
Eis onde se vislumbra o herói inútil...
A boa vontade cheia de máculas...
O podre do puro...
O suspiro ínfimo do tudo...
A sutileza esta aí...
Nos dois extremos...

Felipe Ribeiro


Mais uma tréplica qualquer

Sinto o dia como um chicote
Abro a porra dos meus olhos
fico cego com a luz do sol na minha cara
Depois de uma bebedeira
uma noite maravilhosamente desconfortável na rua
sozinho
livre
Alcanço a parede pra me apoiar
me levanto e vejo o ponto de ônibus cheio de pessoas
pessoas que andam
correm
refugam a si mesmas...
Arroto, saio de cena.
Cambaleio e vomito e penso: Poxa... Quando vai acabar?
Sento no chão
fecho os olhos
esperança inútil de a náusea passar
esperança inútil é o que mais se vende...
É o que mais se compra...
A minha esta com os ratos...
Com os ratos...
Sinto o calor da manhã
a fumaça dos carros velhos e barulhentos que vão e vem na rua.
Me levanto.
Outra vez apoiado na parede...
É a única coisa que me apoiaria nessas horas...
Dou dois passos, olho pra frente...
Respiro fundo e...
Continuo.



Felipe Ribeiro