quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pré-Cambriano.

É um milagre eu conseguir escrever nesse blog. Algumas situações só tendem a comprovar o quanto sou um analfabeto digital. Dentre elas o fato de as pessoas falarem com a maior calma que irão baixar a tal música ou o tal filme, que não vão comprar cds nem dvds porque já estão no site e coisa e tal. Eu tenho uma inveja danada dessas pessoas. Eu ainda compro cd, ainda alugo dvd e me orgulho de dizer que não sei mexer muito bem na internet. Sou da época em que baixar música era sinônimo de comprar uma fita K7, sintonizar a rádio e esperar a música aparecer e gravar. Isso com bastante reza para que o tal do locutor não se intrometesse no meio da música. Sou da época em que se comprava fita VHS e gravava os filmes que passavam na Globo, na Manchete, no SBT, na Bandeirantes... Gravava com o maior cuidado, quando surgia o intervalo pausava e quando recomeçava apertava o REC. Época boa, não muito prática, mas muito boa. Uma merda, mas era bom. Hoje é bom, mas é uma merda para mim parafraseando o grande filósofo Tom Jobin. Não sei ao certo, mas tudo que é facilidade nos dias de hoje não me atrai nem um pouco. Agora a onda é o tal do Ipad, ou algo que o valha. Parece um totem no qual todos prestam veneração. Eu ainda prefiro um livro, as árvores que me perdoem. Prefiro escrever cartas também, detesto emails, acho o fim do mundo alguém me dizer que não tem tempo para escrever cartas, mas para ficar o dia todo na internet como um morto-vivo escrevendo o que acabou de fazer no tal do Twitter ou facebook ou não sei o que, isso tem. Alias, fiz um twitter a uns dois anos atras, só escrevi uma frase e desisti. Não entendi aquilo. E tenho orgulho de dizer isso. Aliás, orgulho é a única coisa que me resta, a única arma que eu tenho. Um vizinho meu de nove anos ao ver um disco de vinil disse alarmado: "Nossa, que cd gigante!" Tive orgulho em lhe explicar o que era aquilo, e ainda consegui me enrolar na tecnologia analógica. Meu celular por exemplo era de um tio meu que sobrou e me deu. É um modelo "velho" de sete anos. "Sete anos! Que absurdo! Ainda funciona?" As coisas não foram feitas para durar hoje em dia, as memórias também não. As pessoas só pensam pra frente, no que vai melhorar, na novidade e coisa e tal. Melhorar o que? Já não está bom o suficiente? Para mim já passou de bom, já ficou desnecessário. As pessoas fazem de um tudo de uma vez só, são dinâmicas, não têm tempo a perder em coisas que não sejam práticas... "Pra que fazer isso assim, vai demorar... Use o Tab, vai mais rápido!" E com isso eu ganho dois segundos, um tempo precioso demais para ser perdido. O secretário municipal de não sei o que da minha cidade (acho que de trânsito e transportes) estava falando para a televisão as justificativas para a construção de um viaduto no cruzamento de duas avenidas movimentadas da cidade, entre as justificativas destacou-se a incrível preocupação com o tempo em que o motorista fica parado no semáforo: dois minutos. Se as pessoas do dia de hoje conseguem se angustiar com um segundo perdido ao não usar a tecla Tab imagina dois minutos no semáforo... Eu fico imaginando o que as pessoas ultra dinâmicas fariam em dois minutos... Acabariam com a fome no planeta? Achariam a cura para as piores doenças? Não! No máximo enviariam piadas por email, escreveriam no twitter sobre o ovo cozido que ficou mole, assistiriam a um filme pornográfico ou, quem sabe, o que é pior, escreveriam num blog sobre toda essa ilustre porcaria.

Felipe Ribeiro

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

livros e mais livros.

Ora muito bem, comecei a trabalhar enfim num ambiente em que eu gosto muito: uma livraria. O problema é que com as livrarias, se é que posso chamar isso de problema, aparecem alguns livros que me fazem pensar muito no porque alguém publicaria tal e tal obra. Por exemplo, um livro que explique algum outro livro de sucesso que nem é tão complicado de se entender obviamente que irá atrair pessoas que não conseguem entender o óbvio. Essa semana tive o prazer de me encontrar com uma dessas não tão raras pessoas que me pediu um livro que era a explicação de um livro que era, por sua vez, a explicação de um outro livro que, por sua vez, nem era tão dificil assim de se entender. Sugeri a essa pessoa que comprasse o livro que foi alvo de duas publicações a seu respeito na tentativa de explicá-lo. Pensei comigo, porque algum autor irá escrever algum livro para só depois escrever outro para explicar o primeiro? Por que não escrever logo de uma vez um livro mais claro? A resposta, obviamente, é que a maioria desses autores escrevem muito para venderem muito e a lógica é simples, os autores tratam as suas próprias inspirações como sendo um produto. O problema dessa lógica é que com ela arrastam-se uma multidão de consumidores famintos por coisas novas e com isso obras que são escritas no intuito de explicar outras retiram dos próprios leitores a responsabilidade e a capacidade de compreensão da própria obra. A sessão de auto ajuda que o diga! Mas é uma experiência que considero de suma importância pois estou percebendo que numa livraria entram pessoas de todos os tipos e que tem gostos de todos os tipos porque ali se encontram livros de todos os tipos escritos por autores de todos os tipos. Você é o que você lê, mas muito mais, na minha opinião, aquilo que você procura ler, ou seja, o motivo de estar lendo isso ou aquilo. E os motivos são infinitos assim como são infinitas as possibilidades que cada pessoa carrega consigo de se melhorar ou não, e isso significa, na minha opinião que, por sua vez, não significa nada, ler por curiosidade e não por comodismo, ler por impulso e não porque simplesmente o livro x ou o y é o mais vendido e o mais positivamente criticado. Felizmente existem muitas pessoas assim, que procuram, fuçam, que simplesmente abrem o livro na primeira página e começa a lê-lo sem o auxílio de axiomas de alguns críticos literários ou de vendedores que estão lá para auxiliar na venda. Em suma, o que se está em questão aqui é a autenticidade da motivação de cada um, se ela pertence de fato a cada um, se ela nasceu da simples curiosidade autêntica, aquela que brota do fundo do ser e que reflete como ele é possibilitando assim a essa autenticidade se refletir nas escolhas de cada um que por sua vez acabam refletindo na postura que cada um carregará diante da vida, diante da feitura do seu próprio destino.

Felipe Ribeiro