segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Alienado, graças a Deus!

Então finalmente eu consegui ficar em casa sozinho durante algumas horas. Fazia alguns meses que não assistia a nenhuma programação de nenhum canal de televisão. Lá estava o controle, ali a televisão, ali o sofá. Perguntei-me se valeria a pena aquele torpor. Não valia, eu bem o sabia, mas por mera curiosidade resolvi ligar o aparelho e constatar o que estava se passando na programação de alguns canais. Assim que liguei o aparelho o canal respectivo era o mesmo que passava umas seis novelas por dia e que não era novidade alguma estar sintonizado nele. Meus familiares adoram novelas. Porém já havia passado o horário da última novela do dia e estava prestes a começar um programa designado "reality show", algo assim. Primeira cena: Uma mulher completamente embriagada tirando a calcinha e rebolando os quadris. Segunda cena: Alguns homens musculosos gritando e xingando uns aos outros. Terceira cena: Todos pulando e dançando ao ritmo de uma banda ao vivo, todos com suas respectivas bebidas em mãos. Mudei de canal. No outro estava passando um debate entre pensadores brasileiros sobre a politica de um país distante que estava sendo governado por um ditador a mais de vinte anos e que agora estava sob a insurreição da maioria da população. Assisti um pouco e ouvi todas as opiniões. Mudei de canal e estava a passar um programa humoristico onde havia algumas mulheres musculosas que rebolavam sem parar. Assisti um pouco e mudei. Outra entrevista. Mudei. Um pastor gritando aos seus fieis. Prestei um pouco de atenção. Mudei. Voltou ao primeiro canal onde ainda se passava o tal "reality show". Dessa vez uma mulher falava a outra sobre um plano terrivel em que a maioria estava empenhada para desmoraliza-la. Não sei se a mulher era a mesma que eu havia visto no começo, mas se fosse não precisaria de ninguém para desmoralizá-la, ela havia feito isso minutos antes. Desliguei a televisão. Não havia nada de novo em meses, absolutamente nada. A mesma vaidade, a mesma promiscuidade de sempre, a mesma apelação. Não havia o que se fazer, só mesmo desligar a televisão. A mim pareceu o mais sensato. Eu fiquei a imaginar quem poderia assistir aquilo tudo e conseguir gostar daquilo e por que? Logo em seguida minha familia retornou e a primeira coisa que fizeram foi ligar a televisão. O tal "reality show" já havia acabado, e minha mãe me pergunta se eu não havia visto. Disse que não. Minha irmã mais nova pega o controle e coloca num canal onde se paga para assistir à aquele "Reality show" durante 24 horas por dia. Ela ficou no sofá por quarenta minutos assistindo aquelas pessoas que não falavam coisa com coisa. Uma cena me marcou profundamente: Durante mais ou menos uns vinte segundos a camera do "reality show" focou numa mulher que estava dormindo. Vinte segundos. Eu observei minha irmã. Estava vidrada naquela cena. Observei novamente a cena e a moça ainda dormia. Cocei a cabeça e pensei: "Que diabos! O que é que ela esta vendo que eu não consigo ver?" Respirei fundo e fui para meu quarto terminar de ler um livro. Acho que o livro se chamava "As vinhas da ira". E ainda me chamam de alienado porque eu simplesmente não sei o que acontece nesse "reality show". Sim, eu sou um alienado, nesses termos, eu sou um alienado. Com orgulho, um alienado, um fora de sintonia, um ultrapassado, atrasado, mediocre, ignorante. Sim... nesses termos, sim, eu sou. E devo confessar que continuarei a sê-lo enquanto durar o pouco senso que eu tenho a respeito de minha dignidade.


Felipe Ribeiro

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Desculpem por isso. (parte 1)

Tenho cada vez menos tempo para escrever aqui, portanto tenho cada vez menos inspiração para escrever algo que realmente vale a pena ser escrito; o que não quer dizer que tudo que eu escrevi até aqui seja lá muito relevante para a humanidade. Portanto devo escrever que ultimamente me sinto cada vez menos eu. O que é engraçado porque a maior parte da minha vida tentei de fato descobrir quem sou eu para mim mesmo e agora que eu já me cansei de me procurar descubro que não estou sendo o que eu costumava ser e portanto estou sendo cada vez menos eu. É estranho discernir alguma coisa pela sua falta, mas é exatamente isso que acontece com os que de fato não são atentos para com as coisas mais essencias em si próprios. É estranho notar essa falta e como ela se faz presente. É como uma inércia, é como um motor quente que para de rodar mas que ainda esta estalando de quente. É como uma ventania, uma gigantesca tempestade que vai se acabando aos poucos... Bom, e o que é que eu quero dizer com isso afinal de contas? Não tenho a mínima idéia. Acho que estou escrevendo por tédio. E se alguém chegou até aqui nessa leitura significa que está mais entediado do que eu mesmo. Queria escrever um poema... Mas não consegui. Queria escrever um texto profundo, filosófico, uma anedota, alguma coisa com vida o suficiente para dilatar a pupila de alguém... Queria apenas escrever. E saiu isso. Desculpem por isso.


Felipe Ribeiro