sexta-feira, 20 de maio de 2011

Desculpem por isso, parte 2.

Perguntaram-me porque não ando escrevendo mais no meu blog. Porque não tenho o que escrever, talvez. Porque deveria? Quem sabe? Eu não sei de nada. Apesar disso ando contente. Não, talvez seja apenas o velho tédio que voltou depois de alguns anos de profunda tristeza. Nesses anos eu escrevia muito, confesso. Não porque eu tinha o que escrever, mas talvez porque eu necessitava escrever, necessitava extravazar. Agora não tem nada para extravazar, já extravazou. Extravazou porque a jara estava quebrada e tudo que estava dentro escorreu para fora, agora só sobrou os cacos e os remendos que não foram muito bem remendados. Enfim, apesar disso tudo eeu juro que me esforço para escrever um texto inteligente, um texto ácido, um texto enfim que me exponha de uma maneira favorável no cenário daqueles que se dizem escritores. Sim, eu sei, ridículo, eu sei, os escritores. E os que acham que o são então, melhor nem dizer. Eu acho que sou um desses que pensam que são escritores. Eu não sou, apesar de gostar de escrever. Aliás, sobre o que eu estou divagando? Agora mesmo me peguei numa indisposição absurda, aliás, estou com ela agora enquanto tento escrever alguma coisa aqui para as poucas pessoas que sentem a falta dos meus escritos, se é que sentem. Nunca consegui entender as pessoas, nunca pensei em termos do tipo "essa pessoa é hipócrita" ou "essa pessoa é honesta". Sou muito burro para pensar assim, e demasiado despretencioso para tanto. Penso nas pessoas em apenas um único termo que nem sei bem ao certo se é o mais válido. Não, na verdade nem isso. Não, na verdade não mesmo. Ando cansado, sei disso. Porque ando cansado? O mundo grita pela justiça, há coisas horriveis e belas ai para serem escritas, há coisas lindas e belas que ainda me chocam, há coisas tristes que me fascinam, ou seria o contrário, nunca sei. Talvez o que me falte é a emoção. Emoção vem do latim que significa mover-se. O que me faz mover agora não é bem uma vontade, mas sim a própria inércia do que foi um dia uma vontade terrível de escrever. Essa mesma inércia, que é a tendência de os corpos que estavam em movimento continuarem em movimento, esta se extinguindo aos poucos. Tenho um emprego, confere. Amo uma mulher, confere. Tenho saúde, confere. Tenho amigos, confere. Não devo na praça, confere. Tenho uma família, confere. Todas as coisas boas da vida me acusam e me fazem tremer de emoção quando penso que poderia ser pior. Isso é assustador, pensar no pior. Lógico, sempre é assustador. Mas, estou perdendo de novo o fio da meada... O que eu quero dizer é que não tenho motivos para me entristecer. E a tristeza me faz uma falta danada. Vai entender! Talvez eu tenho é saudade do tempo que eu tinha disposição para escrever sobre qualquer coisa, sem pretensão alguma. O grande problema hoje é que eu preciso de alguma pretensão para escrever, porque é uma necessidade eu me tornar útil, porque eu me sinto um inútil. E a bem da verdade, quando eu era de fato um inútil, e não como hoje que eu só me sinto um, me sentia muito mais livre para escrever. Melhor dizendo: Agora que sou útil para a sociedade porque eu trabalho, porque eu amo, pago minhas dívidas, não dou trabalho para minha familia, tenho uma saúde impecável e sou aquilo que dizem ser o objeto social do homem de bem me sinto podre por dentro a tal ponto de não ter nada para escrever. Uma amiga me disse que eu estava possuido hoje. Deve ser o verme da comodidade, o parasita da normalidade que se instalou em mim e que esta a comer velhos ímpetos de criatividade e a cagar sonhos que antes eu não tinha, como por exemplo entrar com um financiamento de uma casa, ajuntar dinheiro para não me preocupar futuramente, contar os anos para minha aposentadoria... E minha amiga acertou em cheio: Onde esta o Felipe? Aquele felipe chato, carrancudo, calado, machista, idiota, hipócrita, mentiroso, bêbado, triste, sofrido, miserável, mas que tinha a sua alma intacta e a sua liberdade de expressão, porque tinha o que expremir? Não sei. Confesso que não sei. Mudei, para melhor, o que me tornou pior. E não tem culpados, não tem inocentes. O que se tem é isso. Fato. Desculpem por isso, outra vez.


Felipe Ribeiro.