terça-feira, 14 de julho de 2009

Conversas com uma amiga.

Ora muito bem... O apartamento era simples, a festa banal, a música boa e as companhias essenciais... Enquanto a música rolava e alguns amigos iam pra varanda, eu e ela ficamos sentados no chão, um de frente para o outro, cada um com seu cigarro e seu copo de vinho tinto barato. E o vinho, ahh o vinho! E os cigarros pra ambientar melhor a atmosfera daquele momento mágico de uma conversa um tanto bebâda, mas franca, com uma grande amiga.
Olhei para ela e dei de ombros, num sorriso sem dentes. Ela então começou...
-Então Frank... O que é que há?
-Olha... boa pergunta. Eu não sei.
-Quem é que sabe de alguma coisa nessa vida?
-É... porra... é... Enfim, eu acredito que cheguei a uma conclusão bastante interessante sobre tudo isso...
-Sobre tudo isso o que?
-Isso tudo... Veja, acho mesmo que podemos falar no máximo daquilo que nos condiciona, saca, da nossa condição ignorante no mundo? Mas, o que somos em si acho que é pura especulação.
-Concordo contigo Frank...
-Porque somos tudo e nada ao mesmo tempo, somos uma comparação, entende? E por sermos uma constante comparação nós mudamos constantemente...
-Exatamente! Eu acho que nunca somos, apenas estamos, apesar de sermos algo, entende?
-Sei... interessante porque enquanto somos, estamos... E enquanto estamos, somos.
-É! Logo nem nós e nem ninguém sabe de fato o que somos, tipo, sabemos que somos algo, mas nos conhecemos a partir do quando em que estamos, em diferentes momentos...
-Sim porra... É essa a nossa condição no mundo, perante ele e perante os outros e perante a nós mesmos... É disso que podemos falar sem medo, ou melhor, especular seguramente... Pode isso tudo não passar de um sonho de um maluco?
-Poxa Frank... Vivo me perguntando isso! É mais um mistério que me enlouquece...
-Porra... Pergunte isso vivendo... entende?
-Sim, é isso que tenho feito nos ultimos tempos...
-Quer mais vinho?
-Quero, enche ai...
-Então... Que bom... Sabe, viver a vida e esquecer de certas coisas servem justamente para não nos enlouquecer de vez, ou melhor, não perder o fio da meada... saca? Aquela pouca fé que temos e que de vez em quando nos sustenta...
-Exato! É por isso que tenho me sentido tão bem... Tem fogo ai?
-Perae... Toma o isqueiro...
-Sabe... eu cheguei a conclusão de que cada um fica bem ao seu modo Frank... Mesmo aquelas pessoas que vivem se punindo e blablabla, se aquele é o jeito delas, então porque não deixá-las serem assim?
-É... te entendo, mas ainda acho que deve ter um limite... Senão a pessoa se auto-obseca e fica se fodendo pensando que esta bem...
-Aham... Concordo contigo, mas digo que cada um tem seu jeito de ser feliz. Não existe um estereotipo de felicidade, apesar de usarmos muitos sem querer e sem notar...
-Felicidade... Puta que pariu... Felicidade... Que é ela pra você?
-Olha... pra mim felicidade é o que passamos a vida inteira conquistando, saca? É a falta de algo, a angústia do não ter e a alegria por conquistar. É partir pra outra Frank, é o motor da sociedade!
-Isso é insatisfação, não?
-Acho que não, porque satisfação nos deixa deprimidos, as vezes pode sim nos impulsionar e tal... mas nos impulsiona pra ir de encontro com a nossa felicidade que, na minha concepção, nunca é plena.
-É.. mesmo porque se for plena não tem mais porque ser feliz. É como a lamentação... Quando acaba a causa dela não tem mais um porque existir... vira um fantasma.
-Isso mesmo!
-Legal, legal... então a falta é o que nos impulsiona... E não pode ser plena porque falta?
-É.. penso assim. Pode não ser verdade, mas penso assim...
-Pra mim faz todo o sentido.
-Bom então... vinho por favor!
-Opa...
Nessa hora ficamos bebericando cada um o seu copo de vinho, pensando em tudo que acabávamos de dizer... A coisa fluia... Ficava claro, apesar de sabermos o quão ignorantes ainda o erámos para com qualquer coisa que fosse. Olhei pra ela e ela sugava lentamente seu cigarro, olhando pra varanda, para o céu escuro daquela madrugada... O vinho acabou e fui buscar mais. Alguém a chamou na varanda. Bebi uma garrafa inteira sozinho. A festa valeu a pena.


Felipe Ribeiro & Dinah Lorena

2 comentários:

Dinah Faria disse...

Incrível Frank como vc transforma meros diálogos cotidianos em fantásticos pensamentos sobre a condição humana. É mágico. Vc é mágico! Um mágico das palavras.

Ana disse...

Concordo com a Dinah, de fato esses diálogos "transformados" por vc, as histórias que vc conta em prosa ou verso nos faz entrar numa esfera de reflexão mesmo, por exemplo de pensar o ser e a existência enquanto estado ou condição (ou ambos). E a magia está justamente aí: Fazer o outro pensar (sem dor, sem cobranças, sem preocupações com erros e acertos, simplesmente pensar...)