terça-feira, 1 de junho de 2010

Da timidez.

Ser tímido é uma arte. Se nasce com essa áurea e ao passar do tempo ela só tende a se fortalecer. Ser tímido é saber fugir constantemente da própria Razão que, inexoravelmente, te atormenta com o simples fato do bom senso existir. Para um tímido isso de bom senso é tão pesado quanto uma bola de aço amarrada ao pescoço, tão insuportável quanto uma atmosfera fétida. Ser tímido é de fato uma arte, porque ser tímido é saber lidar constantemente com inspirações que lhe surgem como um raio e que te dizem para entrar em ação... As pessoas ditas normais tem isso como um movimento natural, os tímidos não: Esperam até o momento do limite entre o certo e o certo para escolherem de fato entre o certo e o certo... Algumas vezes erram porque fogem simplesmente do que é mais certo, tamanha é a sua inclinação para com o hábito de perscrutar tudo e todos detalhadamente. São as pessoas também mais sensíveis, mais vulneráveis ao vento da desconfiança... Geralmente não aguentam mentiras, mas são os que sabem melhor fingir a sua verdadeira natureza. E fingem não por malícia mas antes por uma auto-preservação natural que faz com que se fechem para todos. Geralmente são pessoas boas, se algum tímido for uma má pessoa é porque alguém fez com que ele se transformasse nisso e daí se torna a pessoa mais perigosa de todas. Quando dois timidos resolvem querer alguma coisa juntos o que se pode observar é um verdadeiro festival de patinação, qualquer erro de calculo é o suficiente para desequilibrar e para travar ambas as partes. E esse cálculo não é um cálculo frio de interesse necessariamente econômico onde cada um observa pura e simplesmente as vantagens que tem a oferecer um ao outro... É um cálculo baseado na quentura da alma, dos rápidos e ousados olhares um para com o outro e que já são o suficiente para ruborizar a ambos, é o sorriso tirado de um a custa de muito sacrificio e que é comemorado no íntimo como a maior vitória de todas... É um interesse mútuo porque o tímido não se interessa apenas em se mostrar (aos poucos) como é de fato, mas antes ele analisa se é mesmo compensatório para o outro fazer com que ele se mostre para o outro... São criaturas compassivas, são criaturas que se apaixonam rapidamente e que não demonstram de jeito nenhum o enorme entusiasmo que a simples presença do outro pode lhe causar. São criaturas, enfim, que acompanham de longe tudo aquilo que um dia poderão ser de perto, que sonham de fato com tudo aquilo que de fato podem ser mas não tem a menor convicção de que podem ser de fato. São humildes no fim das contas, mas não consigo mesmas, porque todas as suas cobranças recaem apenas e tão somente nelas mesmas o que não é pouco porque de fato se há alguém que sabe cobrar (ao menos de si mesmo) são os tímidos. E quanto mais se cobram das duas uma: ou mais se enchem de coragem e arriscam um pouco (o que já representa quase tudo para um tímido)ou simplesmente não arriscam e fogem (o que é a coisa mais fácil para um tímido), o que já é em si mesmo correr outro risco, o de se arrepender por isso. A vida de um tímido é correr esses dois riscos o tempo todo... Na verdade todas as pessoas correm esses riscos, todos os dias da vida, mas para um tímido a coisa toda toma proporções gigantescas. E, para finalizar, quero deixar claro aqui que as pessoas tímidas têm laços duradouros com as poucas (e sinceras) amizades que fazem, mas se duram é porque são temperados com a sinceridade com que só um timido, que deixou de alguma maneira de o ser, pode demonstrar.


Felipe Ribeiro

Um comentário:

Ciggi disse...

É como ser solitário e estar acompanhado de todo mundo ao mesmo tempo!