quarta-feira, 3 de março de 2010

Da força nossa de cada dia.

Alguns dias atrás estava eu sentado na calçada, como não haveria de ser, depois de passar o dia todo tentando sem muito esforço ou comoção de minha parte arranjar um emprego por ai, quando me deparei com uma cena no minimo curiosa. Um menino de seus seis anos de idade estava acompanhado por um outro garotinho, talvez seu irmão mais novo sentados logo ali, perto de mim. Até ai tudo bem, mas o que me deixou mais curioso foi quando uma senhora passou por eles e deu um bombom ao menino mais velho. Este por sua vez agradeceu, e colocou a lingua para fora tentando abrir o bombom... Pensei comigo, porque é tão dificil abrir um bombom e logo obtive a resposta: O garotinho não tinha dedos. O que havia no lugar dos dedos eram apenas pequenas protuberancias com unhas, mas havia sim um polegar em cada mão ao menos, e isso ajudava o garoto. Ao final de 5 minutos de batalha ele consegue abrir o bombom, come a metade e dá a outra para o seu irmão mais novo. Foi uma cena no minimo estimulante para mim, que logo ficou corado de alguma vergonha por ter as mãos perfeitas e não cometer a muito tempo gesto tão nobre com elas como o fez aquele garotinho. Foi então que eu reparei que logo depois apareceu num portão a duas casas de distancia um outro menino que era um pouco mais velho. Ele perguntou com um grito o que o outro estava comendo e ele acabando de engolir disse num outro grito: - Bombom. O outro então pediu um bombom pra ele e este, com toda a inocencia, mostrou as mãos vazias que carregava apenas o papel do bombom. Foi então que começou o suplicio...
-Nossa, que isso na sua mão?
O menino, por sua vez, muito embaraçado escondeu as mãos nas costas e ficou tentando pensar numa resposta enquanto o outro continuava a perguntar: -Deixa eu ver!Como que ce faz isso? Deixa eu ver!
O menino então disse, depois de muita pressão: - É mágica!
-Mágica? Como que faz?
-É mágica! - Mostrou novamente as mãos.
-Humm... Como que faz pra elas voltarem ao normal?
Com essa pergunta ficou nitido no rosto do menino a derrota. Foi uma das cenas mais tristes que já presenciei nessa minha curta vida. O menino escondeu de novo as mãos nas costas e caminhou até o muro onde se encostou e ficou cabisbaixo. Seu irmão mais novo corria pela calçada, usando apenas uma fralda, e reparou no seu irmão quieto. O menino estava quase chorando enquanto o outro do portão continuava: - Faz ela ficar normal pra eu ver!
Então o menino mais novo correu para dentro de uma casa e chamou pela mãe. Esta apareceu logo depois e foi até o filho mais velho.
-Mãe... Como que eu faço pra minha mão ficar normal?
-Papai do céu quem fez elas assim...
-Porque que ele fez assim?
-Porque ele quis... E suas mãos são normais. Fala praquele menino que Papai do céu fez elas assim.
O menino foi até o outro que aguardava as mãos ficarem normais e disse que as mãos dele eram daquele jeito porque o tal do papai do céu quis assim.
-Papai do céu? Nossa... ahahahahahahha - Disse o outro menino.
O menino voltou para a mãe de cabeça baixa e mordendo os lábios inferiores segurando o choro mais que podia e entrou na casa. A mãe tentava consola-lo dizendo que ele era o melhor filho do mundo, o que eu não duvidaria por nada. Aquele menino sabia ser forte naquela idade, não derramara uma gota de seus olhos. Eu estava presenciando o nascimento de um grande ser humano no sentido moral do termo. Não tive pena do garoto, nem raiva do outro menino que ficou surpreso pelas mãos do outro. Eu tentei observar a consequencia daquela cena tanto pra um quanto pra outro. E reparei que o mundo vive moldando vencedores e perdedores, o mundo vive construindo e destruindo sentimentos, fortalecendo e enfraquecendo as misérias, permitindo superações fiéis e devastações duradouras...


Felipe Ribeiro

Um comentário:

Nuni disse...

quanto maior o obstáculo, mais temos que superá-lo.