domingo, 7 de março de 2010

O caçador de borboletas.

Eu me vejo como uma rede que dança pelo ar caçando borboletas. Quando tenho a sorte de apanhar alguma eu paro, observo bem suas asas e depois as liberto. As vezes as asas não estão abertas para se mostrarem, dai dou um leve cutucão para que elas se abram para que eu possa ver suas cores, suas individualidades, aquilo que as tornam únicas. Dai as solto, com a certeza plena de que nunca mais verei asas assim novamente. Isso me deixa triste por um tempo, mas logo a tristeza é substituida por uma nova onda de empolgação e a rede novamente dança pelo ar na esperança de ver novas asas, novas cores, novas formas que me marcam de uma maneira única a cada olhadela, a cada observação curiosa e cheia de esperança pela beleza que ali vai se mostrar. Nunca vi uma asa igual a outra, deveras sim parecidas, mas nunca igual. Isso faz com que eu me sinta como um colecionador de beleza, como um amante de coisas únicas... Mas quem não é? Essas asas, quando bem observadas, marcam por um tempo a minha vida. Enquanto isso a rede dança no ar, ao acaso, as vezes captura, as vezes nada tem. A maior parte do tempo ela esta vazia, voando pelo ar, em movimentos suaves, constantes, quase enfadonhos. Agora por exemplo essa rede acabou de soltar mais uma cujas asas eram de uma cor violeta, meio avermelhado... Ha asas com essas cores fortes, ha outras que são de uma coloração sem graça alguma, mas cujo desenho espanta de tão belo. Geralmente a coloração mais forte, mais viva, vem em pequenas asas que voam rapidamente, desajeitadas... As cores mais suaves são acompanhadas por asas maiores, mais bem desenhadas e com um voo lento. São mais fáceis de se capturar, porém são as mais dificeis de se soltar. O desenho unico fica encravado em sua mente e isso te deixa num estado de paixão que te faz querer empalhar a borboleta com as asas abertas e guarda-la dentro de uma caixa de vidro para se observar quando bem quiser. Nunca farei isso. Não há razão para se caçar se a finalidade é a morte e o troféu. Prefiro deixar a beleza viver, se espalhar, unicamente a sua maneira, unicamente. Vez por outra a rede se enche de borboletas, e fica dificil decidir qual é a melhor, a mais bela. Não existe isso de melhor quando de fato todas as asas são únicas.


Felipe Ribeiro

Um comentário:

Thiago disse...

Talvez o que falte ao caçador de borboletas é buscar descobrir as cores das próprias asas. É a impressão que tive...