Ora, há momentos que são mágicos, ou, ao que parece, ficamos mais atentos à mágica que existe em todos os momentos. Presenciei um desses momentos agora a pouco com um velho amigo tomando algumas num boteco digno de confiança.
Falávamos sobre tudo e sobre nada. Nossa ignorância ficou mais que latente quando resolvemos, por um instante, pensar sobre tudo. Não sei quanto a ele, mas em um primeiro momento isso me deixou bastante assustado, haja visto que eu, em quase todos os momentos em que estou consciente, aceito e acredito que saiba de fato sobre alguma coisa. Em um segundo momento me senti, de fato, bastante aliviado ao aceitar minha completa ignorância, não só sobre o que pensávamos no momento (que era sobre de fato tudo, desde física quântica temperada com bastante sabedoria popular até espiritismo e sobre o cara barbado que chamamos de Deus) mas como também sobre, num piscar de olhos, tudo o mais.
Foi um instante apenas e me deixou num estado de desligamento atento. Desligamento atento é o nome que eu dou para aquele estado em que seus pensamentos se esparramam tanto sobre algum assunto que você simplesmente o perde no meio dos devaneios, não pensa mais sobre o pensar, nem pensa mais, só sente até onde sua mente foi e sente com isso a completa ignorância e ao mesmo tempo a completa concretude da vida, o completo assombro... Esse assombro me trouxe uma espécie de saudades, ou melhor, uma volta aos tempos em que eu acreditava em tudo e não naquilo que eu supostamente sabia e creditava todas as minhas esperanças, escondia todos meus medos e dava as mãos para uma ilusão tão fielmente criada que compensava qualquer tentativa de recriminação da minha boa-fé; aos tempos de infância talvez em que não se preocupava em ter razão mas antes em se ser sonho, em se ser sem ao menos saber que se é.
Esses raros momentos, tão necessários talvez, mostram como estamos fatigados por carregar tantos pré-conceitos, tantas máscaras e falsos caminhos, falsos passos rumo a um destino certo de face errada. As faces... Essas faces não aguentam a simples confrontação da mente com a verdade individual. Aquela verdade que é nua e que se desnuda na medida em que não aceitamos mais ser o que não somos mas que, obcecados pelo medo, tanto necessitamos ser. Essa necessidade que é criada, alimentada e valorizada na grande maioria das vezes nos impõe uma ditadura individual, uma ditadura voluntária, em que todas nossas forças são suprimidas pelo medo e pela angústia de não se tornar aquilo que teoricamente e culturalmente se é o mais adequado.
Minhas forças foram suprimidas pela beleza amarga de desfrutar minha própria ignorância. Pelo menos momentaneamente, até me readequar, preguiçosamente, àquilo que, como um vício, me torna não mais do que aquilo que minha falta de fé espera que eu seja.
Felipe Ribeiro
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