quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Conversas pra boi dormir, parte 2.

Ahhh... quarta feira, seis e meia da tarde... Onibus mais do que lotado. Enfim, não se podia fazer muita coisa a não ser se equilibrar pra não enfiar a cara no suvaco da gorda alta e loira e de meia idade à sua frente... Fora isso aquela sensação de estar sendo espoliado, de terem enfiado uma faca no meio dos seus bagos e arrancado toda e qualquer manifestação de descencia própria que estaria em algum canto da consciencia. Eis que sai a gorda alta e loira e de meia idade e dá-se lugar a dois adolescentes, ambos usavam bonés coloridos, um litro de gel no cabelo e muitas espinhas na cara, e claro, só pra constar, conversavam muito, muito, muito alto... Aquela sensação de nausea, aquele pensamento cortante e constante: Deus, onde estava a minha coragem de ir a pé? Não pude deixar de ouvir a maldita conversa... Na verdade nem podia deixar de ouvir, não porque era uma conversa interessante mas sim porque simplesmente eu estava entre os dois... Cristo, onde é que a gente consegue forças para não perder a cabeça? Enfim... Lá vai a conversa. (sim, parece contraditório eu ter decorado toda a conversa, mas, como voces verão, ela é muito simples e por deveras repetitiva...)
-Cara! Puta que pareo, PUTA QUE PAREO!
-Fala maluco!
-Cara.. tipo assim, puta merda meo!
-Só... Também acho! Depois do que o professor falou pra Jaqueline... Meo, eu teria estourado a cara dele!
-Não cara, tipo... Foi foda!
-É... Cara... a Luana é uma gata heim?
-Pode crer... Só de ter beijado ela eu notei que ela é de boa...
-Qualé cara? Voce ficou com a Luana?
-Ihhhh, tá por fora... Pego memo!
-Ahhh cara, vai tomar no cu!
-Sério cara, to te falando...
-Nó... que paia heim? E o Diego, ficou sabendo?
-Que isso cara, lógico que não, deerrrrr!Ce acha que eu vou dar bobera assim? E outra cara, a Luana é de boa demais...
(nota mental, de minha parte, essa Luana era uma puta... voltando com a conversa.)
-Só...
-Cara, essa bosta de aparelho é uma merda! (nota mental, de minha parte outra vez... Redundancia, voltemos com isso.)
-Só...
-Fode com os beijos! De vez em quando eu arranco umas lascas do beiço das muié...
-Só...
(nota mental... Socorro!)
-Cara... Que paia... porque voce não pode ir lá em casa?
-Foda cara... Minha mãe grilou véi! (aqui tenho que fazer outro parenteses... em toda a conversa essa foi a frase em que mais se falou em tom baixo...)
-Foda...
-É.. foda demais...
-É...
-É... Falou fi, depois a gente se ve...
-Ou, falou...

Nesse momento uma cadeira se esvaziou na minha frente. O adolescente que ficou no onibus sentou-se nela de uma vez, quase sentando no colo da senhora que estava sentada antes. Eu estava carregando uma sacola plástica de um supermecado... Essa sacola pesava 4 quilos... Cheio de areia pra gato... Não fiz nada. Dei o sinal e desci. Mais pobre, mais sujo e mais infeliz.


Felipe Ribeiro

Um comentário:

Nuni disse...

HAHAHAHAHHAHAHAHH
raxei cara
sei como são essas conversas... use fones de ouvido da próxima vez