Depois de desabar na cama
E sentir todo o calafrio do silencio
Todo o som da solidão
E toda decrepitude
Do calor
Do fedor
Das emoções baratas
Futéis e evazivas
De um dia inteiro de tentativa
E, só para constar, de falhas
Eis que surge naquele sujeito
Aquela sensação ambígua
De desespero e paz.
A gata surge e ronrona entre suas pernas
Sobe e deita sobre suas costas suadas e frias
Sai de cima e deita ao seu lado
Mia pedindo água
E o sujeito
Movido agora pela paz
Enche a tigela com água
E, mais uma vez, desaba por sobre a cama
E, espera
Espera como se aquilo fosse seu ar
Espera como se aquilo fosse ser a sua salvação
E, espera
Anciosamente
Num misto agora de tédio e angustia
Que, no fim das contas, sabe ele bem que o que perdurará será o tédio
Eis que o sujeito olha para a porta
E ela fica parada
Eis que o sujeito olha para o telefone
E ele não toca
Eis que o sujeito olha para si mesmo
E ele não mais se olha
Só renova
A espera insana
De acontecer alguma coisa
De belo
De útil
De mágico
De absurdo
Então ele tenta criar o mundo
Em seus pensamentos
E, para sua surpresa
O mundo ideal se contaminou
Com o absurdo do mundo real
E para a sua surpresa
Ele não se surpreende
Com o fato de que ele
Não mais consegue
Sonhar.
Felipe Ribeiro
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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