Certa vez, cansado de esperar com uma senha na mão o atendimento de mais uma instituição estatal falida de serviço jurídico, me sentei numa praça lotada de gente que ia e vinha e fiquei a contemplar as coisas... Você sabe, as coisas... Os pombos brigando por um pedaço de salgado jogado fora, as velhas gordas e fumantes esperando o ônibus no ponto entupido de gente, os rapazes com suas pastas e seus perfumes baratos que poderiam jurar dar alguma esperança de dignidade para aquelas almas perdidas, as mocinhas que iam e viam com seus rebolados que quase diziam desesperadamente "socorro me dêem uma alma"... Enfim, foi numa tarde dessas que pude ter a sorte de escutar uma conversa entre dois distintos cavalheiros que com bastante dignidade fumavam seus baseados tentando se livrar de uma provável ressaca. Poderia dizer que de uma forma até romantica eles estavam tratando de filosofar a respeito do mistério do mundo. Era mais ou menos assim:
-Cara... Que que é a vida ô meu!
-Vixe... Vixe!
-Cara... Que doidera!
-Vixe, vixe!
-Que doidera...
-Cara... a vida é isso ae...
-Heim?
-Viche... Nu!
-Heim?
-É isso ae ô... O ar, olha o ar... quando ce bota pra dentro ce come a vida...
-Heim?
-É... porra, o ar, é.. isso ae!
-Viche! É...
-Num é?
-Viche... é...
-A vida tá ae ô... Olha ela ae!
-Vi... Porra... ce tá me tirando!
-Tirando o que rapaize... olha ela ae!
-Hum... é... to oiando...
-Viu?
-Soah...
-Viche rapaize... veio com tudo agora!
-Heim?
-Ela vei com tudo!
-Ahhh... vai se fudê...
-Viche, viche...
De uma forma um tanto quanto satisfatória eu vi ela vindo com tudo. E aquela tarde ficou mais saborosa, de certo modo, mais saborosa. O mundo está cheio de gênios, foi a minha conclusão.
Felipe Ribeiro
sábado, 4 de abril de 2009
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Um comentário:
Existem muitos gênios perdidos, se fossemos menos egoistas para saber escutar e valorizar o outro a vida seria mais rica.
Luciana
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