terça-feira, 18 de agosto de 2009

Da serenidade.

Olhei nos meus bolsos e tinha o suficiente para encher a cara até a noite. Eu já estava um pouco tonto e resolvi andar pra sentir, quem sabe, um pouco de alguma coisa. Fui até uma praça no centro da cidade. O lugar era cheio de árvores e havia uma igrejinha muito antiga pintada de azul celeste. Era tranquilo, mas apesar de tudo ainda sentia as garras do desespero se agarrando a minha vida. Não sabia bem o porque, mas naquela época eu me sentia profundamente melancólico. Observei um casal de jovens se beijando e trocando carícias, sorrisos e risadas contidas em palavras ditas baixinhas ao pé do ouvido. A moça deitada com sua cabeça no colo do rapaz adormecera. Ele a acariciava. Estavam os dois sentados num banco ao pé de uma mangueira enorme. Eu estava escorado num poste da praça a mais ou menos uns 20 metros de distância do casal. Gente ia, gente vinha. Carros iam e vinham. Pardais faziam estardalhaço e cagavam no chão. O mundo parecia alegre naquela tarde. A coerência do mundo se fazia presente naquilo que chamam de alegria. E eu via a alegria plena na serenidade do casal de namorados. Por alguma razão aquilo tudo me fez lembrar do quanto eu era panaca, bunda mole, frouxo e vagabundo. Não caminhava no mesmo ritmo das outras pessoas. Cheguei a pensar que era algum retardado, coisa que aliás eu tenho lá minhas dúvidas se não sou. Nunca corri para alcançar um ônibus, nunca corri para entregar a produção do dia no horário estipulado pelo patrão. Nunca li alucinadamente na tentativa de aproveitar o tempo para ler de tudo. Sempre tive meu tempo, ou melhor, sempre fiz meu tempo; e te digo uma coisa, sou lerdo para com isso. Nunca consegui suportar a idéia de que eu teria a oportunidade de ser "melhor" do que fulano ou beltrano. Para que tanta pretensão? Sempre deixei escapar a chance de me dar bem na vida através daquilo que os moldes hipocritas da sociedade de consumo tenta pregar e disciplinar. Agora lá estava eu, meio zonzo pela cerveja olhando toda aquela serenidade do casal que realmente não se importava nem um pouco com tudo isso que eu estava ruminando. Ainda bem, eu pensei, ainda bem...


Felipe Ribeiro

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