Não estou num bom momento para escrever; aliás, fico pensando se já tive algum bom momento e se já consegui capturá-lo no que escrevo... Geralmente gasto meus bons momentos com alguma outra coisa, o que eu não sei dizer, ou mais provavelmente nem me lembro. De fato fica dificil responder quando me perguntam o que me deixaria feliz. Já me acostumei tanto com essa situação enfadonha, triste, bamba, que meu momento de felicidade seria no máximo um pouco de empolgação por estar fazendo alguma coisa fora da rotina e que durasse talvez algumas horas, ou alguns minutos... ou quem sabe, alguns segundos... Ou quem sabe, não durassem de fato nada porque nunca existiriam, foram todos ilusões, doces ilusões... Causas sonhadas mas que na realidade não causaram nada, só mais e mais fuga e consequentemente mais e mais fadiga... E consequentemente mais e mais peso para as minhas costas. Sinto-me arrastando um peso muito grande, um peso quase insuportavel... Parece que ando de joelhos, talvez a implorar inconscientemente e constantemente para que me deixem em paz, para que não me encham mais de esperanças, para que não me façam perder meu precioso tempo em tentativas vãs de ser no minimo decente para mim mesmo ou para alguém. Meu precioso tempo... Nem sei porque escrevi assim, força do hábito insano que carrego dessa cultura introjetada em mim desde pequeno e que pretende me tornar no futuro um pequeno burguês careca, barrigudo e constantemente preocupado com seus negócios... Meu tempo de fato é tudo o que eu tenho. Não sei dizer o quanto ele vai durar, mas sei que ao menos eu tenho isso... Mas existe uma grande diferença em saber o que se tem e saber o que fazer com o que se tem. Tento doar meu tempo para os problemas alheios, já que, aparentemente, não tenho nenhum problema; apesar de me sentir sempre atormentado por uma grande angustia e tristeza. O alivio de cada um esta em saber o porque de sua angustia... Todo mundo procura um porque para seus problemas; pelo menos aqueles que tem um compromisso sério com seu próprio bem estar. Para outros é um alivio não saber do porque de sua própria angústia, porque ela dá um porque, ainda que misterioso, em suas vidas... Há pessoas que se acostumam com ela, tornam-na sua melhor amiga, fazem piada dela, amam-na mais que a própria razão... Viciam-se em suas dores e fazem questão de ficar atoladas sempre que puderem em suas auto-piedades pseudo-confortadoras... Quando é que vou me desatolar, é o que me pergunto neste instante... Quando eu quiser, me responde o meu orgulho sempre triunfante, sempre fugindo da verdadeira batalha, sempre me apontando o caminho mais comodo, mais indigno... O problema de ser orgulhoso é a fuga constante. Na hora do vamos ver não se ve nada mais do que alguém correndo e olhando para trás triunfante de sua fuga, de mais uma vez não lutar, de mais uma vez poupar suas forças. Há algo de patético em mim, e deve ser isso... Talvez a prova de fogo ainda venha, talvez eu ainda consiga passar por ela, talvez eu prove a mim mesmo que sou mais do que isso que minha vaidade insiste em dizer que sou para mim mesmo; mais do que isso tudo que eu construi a preço de mentiras, de engenhosos desfiles de beleza moral, de surubas éticas em que me comprometi cegamente comprado por uma imagem que talvez me deixasse em paz com os outros, mas não comigo mesmo. Todos tem a sua prova, essa é uma das verdades dessa existencia... Todos têm a sua prova, e essa prova prova tudo o que somos, prova tudo o que deixamos de ser, tudo o que devemos ser e tudo o que escolhemos ser... No fim, é a prova que nos faz ser alguma coisa de fato para nós mesmos... A linha imaginária que basta um passo, um ato de coragem e determinação, um ato de compromisso e de fé em si mesmo, para fazer de nós algo raro, único, imprescindivel, belo e digno para nós mesmos... A beleza estaria ai e a paz estaria logo adiante.
Felipe Ribeiro
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
"O futuro dura muito tempo"!
Postar um comentário