quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Da efemeridade de um brilho.

Ha alguns dias atrás me aconteceu algo no minimo interessante. Andando sem rumo por uma avenida eis que me deparo com uma placa onde se podia ler as seguintes palavras: Toque o interfone. Dei de ombros e toquei o dito interfone. Uma voz feminina saiu da caixinha e me perguntou quem eu era. Pensei que ela estava se referindo ao meu nome, então disse: Felipe. O portão se abriu, entrei no estabelecimento que não tinha a minima ideia do que era. Uma mulher estava sentada folgadamente numa cadeira, apoiando os cotovelos numa mesa enquanto lia uma revista de fofocas. Me observou com os olhos acima dos óculos que estavam pendurados na ponta do seu nariz e me disse pra sentar e esperar que logo iriam me chamar. Não havia ninguém por ali, então me sentei e fiquei aguardando que me chamassem. Pra que, eu não sei. Passou-se alguns minutos e enfim gritaram meu nome. Entrei num corredor até uma porta aos fundos. Um senhor suado com camisa azul clara, esforçando-se para parecer competente naquilo que fazia, me pediu para sentar.
- Então, o que voce faz Felipe? - Me perguntou.
- Faço idiotices
- Idiotices?
- Sim senhor.
- Bom, o que alguém que faz idiotices faz de fato?
- Tudo que lhe mandarem fazer. Mas a diferença, é que o idiota faz com esperança.
- Entendo... E o que o senhor espera?
- De quem?
- Desta firma!
- Ah... Bom, muita coisa.
- Porque?
- Bom, não sei. Só sei que qualquer coisa é melhor que nada, certo?
- Não contratamos qualquer um, tem que haver o compromisso sério do trabalho e...
- Mas, não sou qualquer um. Eu sou ninguém!
- Qual a diferença?
- A diferença é que com o ninguém pode-se fazer de tudo. Mas, claro, não espere nada também.
- Bom, o senhor deixou curriculo com a secretária, certo?
- É, certo...
- Entraremos em contato.
- É, tudo bem.

O fato é que de fato sempre esperamos demais. Faça o teste e espere. Algo surge dentro de voce, alguma expectativa alimentada pelo desespero de querer mudar de qualquer maneira, mesmo que para tanto voce venda a sua alma. O tédio nos proporciona as maiores e melhores humilhações. Humilhações do tipo ser educado com um cara que tenta se passar por alguém mais mais qualquer coisa do que voce, a ponto de te ameaçar covardemente (sic) com o risco de voce não conseguir a vaga na sua firma. As pessoas podem chegar a esse cúmulo contratual, brincando com a necessidade alheia para garantir a sua própria conquista de eternidade. Por essas e outras prefiro ser efemero e passageiro... Como o brilho de um vagalume que ao ser percebido já não está mais lá, mas que brilhou por poucos segundos espantando toda a gigantesca escuridão.



Felipe Ribeiro

Nenhum comentário: