segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Fênix

Ora muito bem... "Então é isso?", pensei. Sentei-me indiferentemente na calçada, depositando todo o resto de dignidade e respeito à minha pessoa numa garrafa quente e triste de vinho tinto barato. Nessas circunstancias voce não espera realmente que alguma coisa vai mudar... e quando digo alguma coisa eu incluo qualquer coisa: Relações humanas, o problema dos esgotos, os ratos malditos e suas doenças, pulgas, o pêlo inflamado da minha bunda, a porcaria da fila dos hospitais públicos, eu, ela, eles, nós e todo o resto. Bom enfim, a ultima golada é a mais esperada de todas, pois voce jura que esta tonto e, por isso mesmo, mais feliz ou alegre ou seja lá o que for voce ainda consegue estar ciente de que a merda esta atolada até o seu pescoço mas que, no estado atual de uma garrafa de vinho no sangue, faz com que o cheiro de podre se torne mais toleravel. Me levanto meio devagar, sacudo a poeira da roupa e vou para o samba que esta rolando naquela noite, bem ali ha 12 metros de mim. Sons, gente, cores... E aquela falsa sensação de liberdade, de total liberdade... Me escoro em uma árvore e vejo todos dançando, rindo... Vejo que as pessoas andam em blocos de no minimo dois individuos... Percebo, então, que sou o único a estar andando em um bloco unicamente formado por uma pessoa: eu mesmo. Bom, não mudou nada, mas enfim, já é uma constatação familiar de que eu estou fodido ou pelo menos sozinho. Lembro-me subitamente de que ha alguém ali que devo procurar... Ha alguém ali que poderia me salvar do tédio abismal que é o simples fato de existir. Sim, há alguém... E sim, pelo que pude notar, me salvou mais uma vez. Um simples oi envolvido de expectativa e de um sorriso pervesamente benéfico fez com que eu me guiasse novamente pelos caminhos obscuros e tortuosos da maldita esperança... Um simples oi foi o suficiente para me deixar sem folego e ir embora de fininho, pensando comigo mesmo o quão idiota e banana eu sou. Enfim.. as vezes nada pode salvar muita coisa, inclusive tudo. E lá vou eu, de volta para meus suplicios solitários, mas renovado de vida... de legitimações... de algo que me toca além do que eu quero e posso...


Felipe Ribeiro

Um comentário:

Nuni disse...
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