segunda-feira, 16 de março de 2009

Ao bêbado.

Ele tinha os olhos apertados
Pequenos, como se vissem luz
O tempo todo.
Ele balançava pra frente e pra trás
Quando ficava parado
E ao andar parecia uma garça
Com o S de suas costas.
Sempre que era chamado
Sorria sem mostrar os dentes
E seus olhos quase se fechavam.
Rugas corriam pelo pescoço vermelho
E quando sorria mostrava rugas profundas.
Vestia a mesma roupa durante semanas
Meses quem sabe.
Um fedor acre, ardido
Misturado a um forte cheiro de alcool
O preenchia por inteiro.
Suas mãos inchadas, suas unhas pretas
seus pés imundos
Seus chinelos gastos
Tudo nele fedia a isso.
E quando o chamavam ria sem mostrar os dentes.
Nunca consegui entende-lo.
Só ria quando chamado.
Talvez ele ainda ria por saber que ainda não desaparecera de vez.
Pode ser, pode não ser, nunca se sabe.
Nem nunca ninguém perguntou o porque de seu sorriso.
Nem nunca perguntarão.
Pra que?
Deixe estar rindo enquanto se lembra o que é sorrir.
Enquanto isso ele fica parado, como pode.
Nem pra frente, nem pra trás.
Mas sim hora pra frente, hora pra trás.
O que esta em torno, não importa.


Felipe Ribeiro

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