quinta-feira, 19 de março de 2009

O Balde.

A corda estava esticada ao máximo.
E na ponta alguém empurrava a manivela.
Fez-se um estrondo.
E o choro da corda sendo enrolada aumentava a esperança.
Por fim o balde trazia apenas poeira.
Não havia naquele buraco água.
E todos sabiam disso.
Mas no entanto alguém ousou empurrar a manivela.
Alguém ousou fazer chorar a corda.
Alguém ousou fazer o estrondo.
Alguém ousou tirar o balde.
Alguém ousou tirar-lhe a poeira.
E amarrá-lo em outra corda.
Jogá-lo em outro buraco.
E puxar água.
O balde era o mesmo que outrora carregava poeira.
Só estava no fundo do poço seco.
Esperando para ser puxado
E usado naquilo que fora feito para fazer.
As coisas inanimadas dependem da escolha alheia...
Para se tornarem úteis e animadas, meio vivas.
Esses seres meio vivos ajudam os vivos inteiros.
Mas os vivos inteiros nem sempre ajudam seus semelhantes.
Talvez dependam de escolhas alheias ainda
Para se tornarem úteis, animados...
E deixarem de ser meio mortos...
Ou tão menos vivos do que um morto inteiro.


Felipe Ribeiro

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